sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O Mestre das Estrelas

                                            Tarsila do Amaral

O5:35 h, e eu vou para o terraço com uma xícara de café nas mãos. Ao passar pela cobertura da área de serviço, vejo um retalho do céu estrelado pelo vão que dá da janela da cozinha para o tanque. Vislumbro o firmamento do pequeno trecho que me permite ver, o sem fim que se segue das estrelas adjacentes ao nosso planeta. Com a primeira claridade, agora sim, subo as escadas para saber do dia que nasce, para sentir o que ele evoca em nossa alma.

Ontem lá estive mais tarde que hoje. O céu parece-me mais claro às vistas. Um sentimento do novo mais que novo evoca do sentir(-se).

05:42 h um pássaro canta. Ocorreu-me descer do terraço e me certificar das horas. Bobagem minha por que mesmo agora, às seis em ponto, ouço o pássaro ainda cantando dentro de mim. Tempos atrás era o galo que se ouvia cantar em todo canto do bairro. O dia acordava ao som destas poéticas trombetas. Os pássaros entravam no tema depois do alarido de anunciação. Hoje, sem os galos, os dias atuais entram direto na música, a divina música. O primeiro pássaro dá o tom, e todos podem se afinar para tocar seu instrumento na dimensão do Eterno. O tempo musical do espaço é marcado pelo compasso da harmonia.

Com o sol a um verso acima da linha do horizonte, vejo-o com nunvens acima. Por toda abóbada celeste as nuvens seguem rápidas passantes. Ele está prestes a tocar uma grande e densa nuvem. Mesmo encoberto por ela, ele continua brilhante para o dia então anunciado. Não importa o estado de nossa atmosfera, ele está onipresente. Presença de estrela. Só ela ficou em nosso companhia por todo um dia luz.

07:03 h, e os cobertores escuros foram levados para o horizonte a noroeste. As nuvens passam rarefeitas sob o sol no céu aberto de azul manhâzinha. Como lençois e fronhas esvoaçantes, elas se vão depois dos cobertores.

Apesar de já vestido para sair pro trabalho, sinto-me ainda assoprando as últimas cortinas para longe. A estrela brilha cada vez mais intensa para retirar todos os véus que nos cobrem a alma. Apesar das roupas que visto, sinto-me nú diante da estrela solar, mas muito mais forte para o pão nosso de cada dia, afinal, o Mestre das Estrelas por aqui passou nos ensinando que não só de pão vive o homem.
O pão da terra vem recoberto de estrelas.
Para vè-las é precisso descerrar as pálpebras.

Jairo Ramos Toffanetto

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