segunda-feira, 28 de julho de 2014

"Terra e Céu em Crônica" ou "Medo 1.0; Medo 1.2; e Medo 2.0"

FotosJRToffanetto

  
"Terra e Céu em Crônica" ou
"Medo 1.0; Medo 1.2; e Medo 2.0"

O Morro do Murça está na periferia entre Jundiaí e Várzea Pta.






Cercada de montanhas, são inúmeras as panorâmicas que avultam aos olhos atentos de quem percorre a cidade de Jundiaí. Sempre há uma nova composição de céu e terra para ver e sentir.

Atravessei uns quatro ou cinco quilômetros para chegar próximo do local com vista aberta para o Morro do Murça em dia nebuloso. Gastei o mesmo tempo para encontrar espaço livre para estacionar o carro, e longe do Hospital Universitário no topo do Jardim Bonfiglioli. Passo a passo por ruas íngremes, fui andando, olhando e sentindo. Feliz com o processo da fotografagem iniciado.
Medo - 1
No estacionamento ao lado do H.U. – Hospital Universitário não me permitiram empunhar a máquina fotográfica. O guardador de carros justificou que estávamos sendo monitorados e que ele poderia perder o emprego por isto. Concluiu ele “Se eu deixar isto acontecer, é já que me ligam pedindo explicações, e aí ferrô, cara”. Ele dava a entender que pra Cia.Seguradora nada justificaria a presença de alguém tirando fotografias ali dentro. 
Medo - 2
Antigamente, a panorâmica pretendida seria possível do Hospital Santa Rita de Cássia, mas desde que ele se tornou H.U. trocaram o alambrado por um muro alto emparedando o visual para o lado sudeste da cidade. Se isto foi triste para mim, imagine para as pessoas que pra lá acorrem. Pois eu digo que os hospitais deveriam se estabelecer em locais aprazíveis, no silêncio das matas,  próximos aos lagos, corredores de água, flores, fontes, canto de passarinho... No caso do H.U., emparedaram o espaço aonde pacientes e familiares poderiam tirar o olhar cavado na apreensão e dor para abri-lo  num olhar ao longe, alcançando a linha do horizonte.
Medo - 3
Será que eu teria de  trepar naquele muro? Enfim, fui tentar a sorte no outro estacionamento daquele mesmo quarteirão. O rapaz não só liberou minha ação como também me acompanhou na fotografagem. Perguntei-lhe do monitoramento por câmeras e ele me tranquilizou dizendo que a presença dele junto a mim, livrava-o de dar explicações à seguradora.  “Entendi”, respondi-lhe eu.
Conferindo comigo a focalização da primeira imagem pelo visor, disse-me ele “Você precisa voltar num dia de sol, fica mais bonito...”. Olhando-o nos olhos, respondi-lhe com um “pois, é”. Era tudo o que ele queria ouvir. Ainda que eu me perguntasse o que para ele era belo ou feio, via-o estarrecido com a imagem revelada no visor da máquina.
O medo... Medo do flagelo, das trevas, do estado de impotência, da morte.  O céu pesando sobre a cidade escura o ameaçava lá dentro, no fundo do profundo. Ficar muito tempo sozinho é uma temeridade para muitos.
Ele  que me acompanhava ou era eu quem lhe fazia companhia às portas do inferno? Sim, ele precisava de companhia, qualquer companhia, mesmo de um lunático com máquina fotográfica na mão. As pessoas não sabem lidar com o que temem. Conversar engana o medo.
Aí está o por que desta imagem obscura da cidade. Ela remonta minha infância. Via-a em dias de sol e potencializada em dias escuros como neste 25.07.2014. Aquele Jundiaí antigo, volvido pelo arquetípico, ainda se faz presente, ainda está vivo pelas ruas da cidade seja qual for a luminosidade do dia. Não vejo olhos, mas olhos brancos na maioria das pessoas andando pelas ruas.

Olhem novamente na foto e vejam se os prédios na frente do Morro do Murça não lembam lápides.

Em 25.07.2014 
O mesmo ocorre com a Serra do Japi e as lápides do Anhangabaú vistas do alto da barroca da Vila Progresso que depois eu mostro.

JRToffanetto
 

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