Coração que titila como copo de cristal,
é sedoso como pétala de flores,
e sendo tão leve como pluma,
pássaros vem pousar.
Por tanta delicadeza, um peito de aço o protege para que arestas pontiagudas de corações de pedra não o arranhem. Mas é preciso manter este peito aberto para que a Poesia passe por este coração - cantando -, e siga seu caminho até os confins do cosmo.
Jairo R. Toffanetto
domingo, 26 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
Haicais do sempre
A Presença Infinita é tátil,
tecida com pétala das flores.
No coração brilha uma estrela,
a de onde viemos.
Jairo Ramos Toffanetto
tecida com pétala das flores.
No coração brilha uma estrela,
a de onde viemos.
Jairo Ramos Toffanetto
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
"Cadê a Serra do Japi" (2)
Na última semana de agosto, fotografei a cidade sob um “smog” inusitado, afinal, ventava sobre a cidade e, em geral, o “smog” ocorre quando há uma inversão térmica. Era o que eu não compreendia. Cadê a Serra do Japi? Foi o título que dei à minha postagem de 04 de setembro. Pois ela ardia em chamas. Infernais linguas de fogo engoliam 600 hectares de mata nativa e, com ela, a fauna, os insetos polinizadores....
Nestes quase trinta anos depois do "Tombamento Ecológico Paisagístico" (1983), ainda se associa ponta de cigarro aceso com época de estiagem. Ainda se fala das velhas queimadas. E porque não se coloca em questão a especulação imobiliária, ou melhor, sob investigação? Por outro lado, se também há suspeita de piromaníacos, a ineficiência na captura destes ou das respostas às perguntas que estou fazendo, é vergonhosa.
A Serra do Japi e sua flora e fauna estão em extinção tanto quanto homens como um Aziz Ab'Saber, o geógrafo responsável pelo estudo do referido tombamento, e que, em defesa dos princípios da civilidade, não tinha a língua presa para denunciar o que sabia. Infelizmente, homens como ele, cuidando da coisa pública, estão em extinção. ´
Lembro-me do comandante do Corpo de Bombeiros em 1983, o então tenente Carreiras. Ele dizia a que a Serra é dos jabotis, dos lobos-guará, das cobras, dos macacos...
Na foto, um jaboti que sofreu queimaduras no casco. Outros animais fugitivos do fogo estão sendo encontrados na cidade. Na foto abaixo, o guará-guará capturado pelo Corpo de Bombeiros e depois solto na serra.
O lobo guará (acima) foi capturado na movimentada avenida Frederico Ozanan.
A cidade é rica, muito rica. Porque não um helicóptero para rondas diárias sobre a serra, e para além dos limites do nosso município, e independentemente do governo do estado? A Serra do Japi deveria abrir uma vocação do cuidar. Muita coisa vem sendo feita, mas ainda é pouco, a serra precisa de muito mais. Mais fiscalização, cuidados, e atitudes com pulso forte.
A propósito: quem é que deveria estar enjaulado no lugar do lobo?
Jairo Ramos Toffanetto
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Sucesso Profissional versus Sacrifício Pessoal
Antonio Carlos Martins – Carlão para uns, Carleto para outros - trabalha com vendas e é bem sucedido em cumprir metas a curto prazo, e diz gostar que seja assim porque tudo é muito variável e intenso.
- Preciso de respostas e atitudes rápidas.
Assim, todo dia, ele sai atrás dos seus objetivos como um piloto de caça, e acrescenta:
- Se gostasse de estabilidade e rotina, talvez trabalhasse em vendas internas.
...Mas para quem gosta de viver no limite, a direção de um jumbo lhe seria estafante.
- Depois da agitação de um dia de trabalho, vou para minha horta onde cultivo mudas e sementes, e também paciência e prazer. Quando uma semente brota, uma muda que vinga, tenho um sentimento de gratidão por acompanhar a vida em processo de desenvolvimento
- Na minha horta as horas parecem mais longas. É neste tempo que não passa que eu gosto de receber os amigos e ficar jogando conversa fora sob um caramanchão de maracujá ou sob um caramanchão de xuxú. Ali, as mesmas falas ganham um sentido diferente, mais natural e amplo. O que eu gosto - mesmo - é de sentir que o outro se sente bem naquele pedacinho de terra.
- Olha o tamanho desta folha de almeirão!
- ... a delicadeza deste pé de tomate!
- Com o meu hobbie, sinto-me participando da vida, e recomendo que cada um encontre o seu. Há uma infinidade de coisas que, extra-profissionalmente, vale a pena fazer.
E conclui:
- Tenha um hobbie, cultive o prazer, e depois sinta a diferença que isto pode fazer para o sucesso de sua vida profissional.
Enfim, esta postagem é um adendo à postagem "Empresas fazendo a diferença" (Parte 1 - quarta-feira, 11 de agosto de 2010)
E conclui:
- Tenha um hobbie, cultive o prazer, e depois sinta a diferença que isto pode fazer para o sucesso de sua vida profissional.
Enfim, esta postagem é um adendo à postagem "Empresas fazendo a diferença" (Parte 1 - quarta-feira, 11 de agosto de 2010)
Jairo Ramos Toffanetto
sábado, 11 de setembro de 2010
Quando perdidos no inferno...
(Imagem da Internet)
O princípio da covardia é o desamor
Todo desalmado é covarde.
Todo medroso é egoísta.
Todo homem que tem medo de amar ataca.
Todo homem que não sabe amar é suicida.
Quem envenena a vida do outro está morto por dentro.
O cachorro grita por carinho, por isto late tanto.
Uivar pra lua não é nada romântico.
É de uma solidão que nenhum cão merece.
O Amor é a maior força do universo.
Quando perdidos no inferno, matamos focas e homens a pauladas.
Jairo Ramos Toffanetto
domingo, 5 de setembro de 2010
In memoriam a um bom corinthiano
Apesar de gostar de futebol, não imaginava escrever sobre este tema, e muito menos em referência ao arqui-rival do meu Palmeiras Futebol Clube, o Sport Club Corinthians Paulista, até que à meia noite de primeiro de setembro, uma queima de fogos me acordou. O Corinthians era no novo campeão brasileiro (2010) e, imediatamente me veio a imagem do Sr. Orlando Toffanetto, meu bom pai, o maior corintiano que conheci.
Para se ter uma idéia do quanto ele era apaixonado pelo seu time, certa vez, em uma sala de espera onde aguardava passar por uma pequena cirurgia, dores atrozes lhe obrigava sentar-se de lado, quase deitado, com uma perna no chão e a outra tomando conta do resto do sofá. Observando-o em silêncio, ora ele me parecia em profunda circunspecção, ora um sorriso feliz e, de vez em quando, com o rosto franzido, soltava um gemido quase mudo. Eu, que sofria pela dor dele, perguntava-me em que ele poderia estar pensando, mesmo porque, seu olhar parecia seguir cenas do passado. “Oh meu pai... meu paizinho...”.
Num repente estonteante para mim, eis o que ele me pergunta :
- Jairôo... será se o Corintians ganha do Palmeiras hoje?
“Ah, ele deveria estar relembrando cenas de jogo do seu saudoso Corinthians. Quem sabe se não era o Cláudio cruzando uma bola para o cabeceio fatal do Cabeção? ou seria um passe magistral de Roberto Belangero? dribles de Luizinho, o "pequeno polegar"? a raça de Idário? ou alguma defesa fantástica de Gilmar? Mas estávamos no ano de 1993 ou 1994. Época em que o Palmeiras formou um time insuperável. Pela sua pergunta, entrevi que, na imaginação dele, o seu time estava bombardeando o meu. Respondi-lhe com suas próprias palavras, textualmente:
- Pai, "clássico é clássico, não tem favorito" e "um time grande não perde três clássicos seguidos contra um outro grande time".
A resposta o anestesiou. Vi sua expressão de dor se transformar em sorriso. Pareceu-me que ele sofria mais pelo seu time do que a dor física que deveras o importunava. Entrar num “centro cirúrgico”, naquela altura do campeonato, parecia-lhe de menos. Ai meu pai..., meu paizinho... Naquele domingo fui um “corintiano orlandense”. Torci, e muito, pelo sr. Orlando, meu velho e bom corintiano, e que viria falecer uns quinze anos depois.
Eu tinha tudo para torcer pelo mesmo time dele. Quando lhe perguntavam "qual a idade do seu menino", ouvia-o responder "Ele nasceu quando o Corintians foi campeão do IV Centenário da Cidade de São Paulo", e colocando o outro no calendário corintiano, concluía com um sorriso maroto "Agora é só você fazer as contas".
Tenho outras histórias sobre este pai corintiano que jamais questionou a minha alvi-verde preferência, ou fez alguma zombaria do meu time, nem do time dos outros. Ele gostava mesmo de futebol, e até a escalação do ataque dos times do Rio de Janeiro ele sabia de cor.
Certa vez, ele me levou ao Estádio Municipal do Pacaembu para eu ver o Garrincha, um legítimo representante do futebol-arte brasileiro, em jogo contra a sempre perigosa Portuguesa de Desportos. Lembro-me bem daquele jogo, um duelo do futebol espirituoso, admiravelmente galante, mas isto é assunto para uma nova postagem.
Por hora, no centenário do "alvi-negro da fazendinha" , deixo esta minha sincera homenagem a todos os bons torcedores deste time histórico e, em especial, in memoriam ao melhor corintiano que já conheci: o meu pai, cujo coração era tão grande quanto o futebol brasileiro.
Jairo Ramos Toffanetto
sábado, 4 de setembro de 2010
Cadê a Serra do Japi?
Última semana de agosto. Sol do meio dia. Ao atravessar o viaduto que liga o Bairro da Ponte São João com a Vila Arens, parei a minha MacLaren para melhor observar o 'smog" sobre a cidade. Cadê a serra do Japi em contorno da linha do horizonte da cidade? Virei-me pro lado esquerdo e...
... cadê o Morro do Murça? Perdemos nossos horizontes?
Aquele foi um dia em que Maísbela perdeu o horizonte.*
A primeira semana de setembro foi mais clara. Voltei para aquele viaduto e tirei fotos para se comparar com as do efeito 'smog".
A Serra do Japi ao fundo.
O Morro do Murça ao fundo.
Eu e a McLaren.
* Maísbela: Postagem de 8 de julho de 2010.
* Maísbela: Postagem de 8 de julho de 2010.
Jairo Ramos Toffanetto
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Pata de vaca
Madrugada de 27 ou 28/08/2010. Tudo, tudo estava parado. Silêncio absoluto. Eu estava no meio da casa, imóvel no escuro, e em lugar algum. Não fazia sentido dar um passo pra lá ou para cá. Não havia o dentro ou o fora, só o nada. Nada a abstrair.
O nada não é um sentimento ou uma sensação, nem a ausência de pensamento ou de imagens mentais, é apenas o nada vezes nada, nem o tempo se transcorre nele.
Se o nada me incomodasse, talvez eu prosseguisse em meu caminho ao pote de água, depois ligaria o fogo para um café, e em busca da lua eu subiria ao terraço com a xícara nas mãos. Ao voltar, abriria as janelas da casa pra renovar o ar e talvez regasse as plantas ao som da música de Shubert, por exemplo.
Enfim, como vivo em permanente vontade criativa, e ela não estava comigo, perguntei-me, de sobressalto, se o Belo havia se apartado de mim, o que significaria uma espécie de morte, e ouvi o vento arrastando uma folha seca contra a calçada do outro lado rua. Eu sabia. Era uma pata de vaca retorcida pelo tempo, e que resistia ao assopro invernal se agarrando ao chão com suas pontas aduncas.
Depois de tomar água, liguei o fogo para o café. Quando a água começou a roncar na caneca, eu rascunhei num papel que “O inverno espectral está de partida. A primavera, ainda velada, apronta o broto. O Belo canta a morte e também a vida.”
No terraço, tomei café sob a luz prata da lua decrescente. Desci-o e passei reto do rascunho. Enquanto o note estava sendo ligado, voltei-me à escrita e... “A primavera está compreendida no inverno. Pólos de uma só energia. O nada é um campo de força”.
Foi Chopin que me veio à mão. Coloquei o “cd” para rodar e voltei ao lápis e papel. “O Todo em cada verso é música e não um poema, um poema sinfônico. Pura Poesia.”
Finalmente, ccm o computador ligado, abri o editor de texto. Na página em branco (o nada), finalmente a consecução da prática criativa. A madrugada, o nada, a folha seca sendo arrastada pelo vento na calçada, os preâmbulos sonambulicos, o café sob a luz prata... Chopin.... agora, a composição´poética.
Sem nada saber, e apenas com a certeza absoluta da criação artística, com as mãos paradas sobre o teclado, pensava em procurar, à luz do dia, a incidental folha seca para fotografá-la e juntá-la aos versos a compor. No final da tarde, depois de ver centenas delas, encontrei uma que se integrava tão perfeitamente àquela madrugada, ao poemeto então composto, que mais uma vez me vi só como um instrumento.
Folha seca
Oh, quero cantar,
e canto, canto co’a voz,
a voz que canta em mim
Terminado o rascunhão do texto daquela madrugada, novo incidente: uma mariposa inteiramente preta entrou pela janela. Novo tema para nova postagem que há de vir.
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