terça-feira, 29 de junho de 2010

“O poeta tem pés de barro” (2)

Somos pó das estrelas.
Barro é a união de pó a pó.
Pó que estava isolado,
disperso em poeira,
agora umedecido
pelo sentimento do eterno
em gênese criativa


A matéria prima do poeta,
para além do pó das estrelas,
é este sentimento úmido,
sem ele, antes que pés de barro,
terá pés de vento
desde os miolos.

Jairo Ramos Toffanetto
Poeta, escritor
e leader training corporativo

segunda-feira, 28 de junho de 2010

“O poeta tem pés de barro”

                                           (Adélia Prado)

Oh! Adélia...
sem asas nas têmporas
o poeta com seus pés de barro
não andaria nas nuvens
fundindo céu e terra
com a linha do horizonte

Sua missão arte filosófica,
e o que o humaniza,
é integrar o barro ao céu,
se ao poeta-homem os céus,
para além dos cirros,
já são de terra

Jairo Ramos Toffanetto

quinta-feira, 24 de junho de 2010

“Estrela Maga do meu sonho”.

(Regina em 1987 em frente ao Iate Clube na cidade histórica de Itanhaém-SP)
                                   
A postagem inaugural deste blog foi lançado a pedido de Maria Regina, minha grande incentivadora e mulher da minha vida. Agora, outra razão não me faz senão homenageá-la com esta postagem.

Sete anos antes de a conhecer, certo da existência dela em algum lugar deste planeta, cantava-a em versos de atração, como um mantra, chamando-a de “Estrela Maga dos meus sonhos” e continuava “Tenho-na contemplado tanto...”

Houveram outros versos, e quinze anos depois, já com dois filhos, ainda empertigado com a natureza feminina, escrevi a ela “Nos teus olhos as vagas do oceano com que me arrebatas”.

Hoje, ainda rente às espumas do mar, ainda absorto em admiração desta gênese láctea, escrevo para esta mulher essencial.

O mistério da natureza é ser bela e dadivosa. A mulher é assim: encantadoramente bela e dadivosa. Como a natureza, sinto-la como um ser evolutivamente em completude e que ainda estão no planeta só para ajudar o homem em semelhante processo.

Pelo fato da mulher trazer novas vidas à luz, povos primitivos acreditavam que ela era sobrenatural (e é). Hoje tudo se explica, mas o fato de ela ser uma bênção na vida de nós homens, descobrimos que ela dá tudo pelo amor - é que elas são o amor. Então fomos buscar a concórdia entre os homens porque para ela não cabe a hostilidade.

Não há humanidade sem o pólo feminino - o amor - no homem, mas uma sociedade de desalmados. Um desequilíbrio fatal para o planeta.

Eis a razão de nos unirmos indissociavelmente a ela: a Poesia, a alquimia do vir-a-ser.

É ela quem promove a transição do nosso estado primário para o topo evolucional que pode caber a cada um.

Sem ela não distinguiríamos coisas simples e eternas como a ternura, o carinho, o respeito. Com ela podemos alcançar a maior das virtudes: a humildade.

Sem ela, não reconheceríamos a delicadeza, pois esta só pode ser apreendida por simbiose. Com ela, ampliamos nossos sentimentos leia-se: conhecimento).

Sem ela, um homem não sentiria o que é chorar de felicidade. Com ela descobrimos a felicidade e, por ela, construímos um altar sagrado para, com ela, nele nos aliançamos com o eterno.

Sem ela, vagaríamos errantes em busca da morte por que não saberíamos o que é vida.

Sem ela não saberíamos o que é ter nos braços uma criatura das estrelas.

Em “Homens do mar”, Victor Hugo dizia algo assim “para além dos nossos olhos há uma pomba voando dentro do peito da mulher”. É preciso conhecermos este voo se com ela quisermos voar no sétimo céu.

Um beijo dela nos ilumina, torna-nos os homens mais fortes e corajosos do mundo. Por um beijo dela inauguramos novos mundos, avançamos no universo conhecido e desconhecido.

Por um beijo dela atravessamos nevascas e tempestades, cruzamos abismos, lutamos com leopardos e javalis, e só para trazermos uma brasa pra aquecer o nosso lar, a casa dos nossos filhos, o nosso canto neste canto da galáxia.

Seria o fim do mundo conhecido se a mulher partisse do planeta. Acabaríamos na barbárie. Mas se soubéssemos que ela voltaria, deixaríamos o mundo melhor só para que ela, ao retornar, orgulhasse-se de nós.

Beijo eterno, e vida longa para Maria Regina Bravo Toffanetto e, neste instante, juntando-se a mim, também um beijo dos nossos filhos, Yuri e Yung.

Jairo Ramos Toffanetto
Poeta, escritor, artista plástico
e leader training corporativo

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mil Vivas aos Quinze Anos do Projeto Orquestra

A música imita o movimento da alma. (Platão)



Há muita coisa boa acontecendo no cenário musical de nossa cidade, e esta não vem de shows acidentais da degeneração sócio-cultural que nos chegam através de pretensos artistas e sua música patológica tão ao gosto da média comum. Não é dos redutos da música clássica na cidade que me proponho a escrever, mas onde tudo começa ou deveria começar: a escola e, felizmente, para o aperfeiçoamento da natureza humana, algumas destas desenvolvem seriedade em sua função útil.

Se a função da escola pode ser definida como a garantia da formação do indivíduo sócio cultural requerido para sobrevivência da civilização humana, entendo que o Projeto Orquestra culmina junto às demais ações educativas do Colégio Divino Salvador na preparação de alunos que possam lutar e se defender nas melhores condições possíveis no cenário econômico, político e sócio-cultural e em que vivemos.

Merece dizer que na maioria das nossas escolas se oferece um computador ao aluno e jamais estudo da música. E lembrar que Villa-Lobos, então ministro da cultura, introduzia música de qualidade nas escolas, e que esta sobreviveu até meados da década de setenta, mas antes dele, no início do século XX, tal movimento já havia sido deflagrado por João Gomes Júnior, mas isto é outra história.

Quinze anos deste Projeto Orquestra - uma coisa boa demais, e histórica, começa com os corais, ver o site da escola -, foram comemorados neste domingo, 30 de maio, com um concerto dedicado a todos os ex-integrantes (cento e doze no total), dos quais muitos se reintegraram à Orquestra para a apresentação final, e logo depois, vale notificar, da brilhante apresentação da Orquestra Filarmônica Infanto-Juvenil de São Paulo, regida por Daniel Cornejo.

Na platéia predominava um sorriso de franca admiração, largo em satisfação, afinal, no palco, adolescentes e pinguinhos de gente à frente de uma partitura com seu instrumento à mão qual extensão do corpo e a prova inconteste de que, apesar de tantos retrocessos em nossa sociedade e juventude, ainda podemos confiar no futuro, pois basta propiciarmos a educação que estes merecem..

Tanto se poderia falar sobre este projeto, especialmente no esforço dos pais e da escola, mas cabe destacar o trabalho e a dedicação da maestrina Cláudia de Queiroz, pois é ela quem pega, há quinze anos, na mão destas crianças e com elas caminha pelo universo da disciplina musical. É preciso muita responsabilidade, competência e, sobretudo, amar o que faz, afinal, o caminhar com anjos demanda virtudes, especialmente a da generosidade. Na arte do educar, os habilitados são os que amam, ou de que outro modo é possível despertar na criança a firme e habitual disposição para o bem?

Para os gregos, especialmente com Pitágoras, Sócrates e Platão, a música tem a ver com a formação ou também com a frustração da realização humana. Por não a sentirem como uma mera questão de deleite, combatiam a música da deformação por entenderem que esta punha o estado em risco. Na China, a música estava entre os dois maiores ministério de estado, o outro era o de Pesos e Medidas. Enfim, há muito material sobre tal assunto para se pesquisar.

Será mesmo que queremos o desabrochar de uma sociedade mais fraterna, civilizada e justa? Os que verdadeiramente a querem, saem do campo das idéias para a transformarem em realidade e, por primeiro, revelam-na em sua conduta. Se com a criança reside a permanente renovação da esperança, há todo um trabalho, que não só a música, a se desenvolver em torno da poética da vida. A criança precisa crescer acreditando que é um elemento de construção de um mundo melhor, que pode vencer e, assim, quando chegar a sua hora, reconhecendo o seu próprio valor, conquistará a sua autovalorização, a sua identidade e, por fim, triunfará para ser feliz.

A felicidade do concerto daquele domingo, além do bem que fez aos presentes, foi marcar quinze anos deste projeto, o que não é pouca coisa, pois insere-se na constituição interna da coisa pública. Veja no site do colégio a extensa e importante lista de apresentações pela cidade, inclusive em praça pública.

Se a música banal é tão presente nos dias de hoje quanto o foi na época de Platão, é porque a sociedade humana ainda precisa dela e, em razão disto, ainda muito mal das pernas, anda sem um objetivo em comum, ou tão somente, no atender das necessidades primárias, ou até que aprenda a reconhecer o real significado da vida e dêem um sentido a suas vidas. Neste dia, reconhecerá a grandiosidade do Todo.

Mil vivas aos quinze anos do Projeto Orquestra do Colégio Divino Salvador!

Jairo Ramos Toffanetto – Poeta, escritor, e leader training corporativo