domingo, 14 de maio de 2017

Da cor do amor de mãe


Flor de abóbora, Google Imagens







Eflúvio de abóbora

(Da cor do amor de mãe)

Um cheiro, um instantâneo a evocar memórias longínquas ou, independentemente delas, remetem-no, por sua vez, a reflexões e imagens adjacentes a você.

Gosto de ouvir guarda-chuva sob chuva leve. A pouco, abri-o e fiz uma caminhada pelo bairro. Atravessando certa rua, sou tomado por um eflúvio de doce abóbora, por uma mãe com uma colher na panela sobre o fogão acertando o ponto do doce, o ponto do amor de mãe. Dela se aproxima uma criança lhe  pedindo uma colherada.

Gosto abóbora, fios de coco queimado, cravo e canela, açúcar em calda... uma felicidade. E ela o faz para que todos, provando doce prazer até ao céu da boca, sintam-se felizes. Nem conta com um “obrigado”, um reconhecimento qualquer, um comentário passageiro que for. Faze-o por encanto, por pura doação.

Mais tarde, ainda tomado por aquele eflúvio de amor de mãe, mãe de todos nós,  volto por aquela rua tentando adivinhar de que casa ele saíra. Tola, curiosidade, pensei eu, mesmo assim, vou pro meio da rua no ponto onde o sentira horas atrás e vejo uma casa pintada na cor-de-abóbora mas, horas atrás não havia nenhuma casa naquela cor. Mas que estava pintava na cor de abóbora, ah se estava.

Segui adiante, dobrei uma esquina, fui ao fim da rua, outra esquina... bem, achei de olhar pra trás. O asfalto, as casas, as pessoas, tudo, nada era da cor abóbora, mas que estavam da cor do amor de mãe, ah estavam.

(JRToffanetto)

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