Flor de abóbora, Google Imagens |
Eflúvio de abóbora
(Da cor do amor de mãe)
Um cheiro, um instantâneo a evocar
memórias longínquas ou, independentemente delas, remetem-no, por sua vez, a
reflexões e imagens adjacentes a você.
Gosto de ouvir guarda-chuva sob chuva
leve. A pouco, abri-o e fiz uma caminhada pelo bairro. Atravessando certa rua,
sou tomado por um eflúvio de doce abóbora, por uma mãe com uma colher na panela
sobre o fogão acertando o ponto do doce, o ponto do amor de mãe. Dela se
aproxima uma criança lhe pedindo uma
colherada.
Gosto abóbora, fios de coco
queimado, cravo e canela, açúcar em calda... uma felicidade. E ela o faz para
que todos, provando doce prazer até ao céu da boca, sintam-se felizes. Nem
conta com um “obrigado”, um reconhecimento qualquer, um comentário passageiro
que for. Faze-o por encanto, por pura doação.
Mais tarde, ainda tomado por
aquele eflúvio de amor de mãe, mãe de todos nós, volto por aquela rua tentando adivinhar de que
casa ele saíra. Tola, curiosidade, pensei eu, mesmo assim, vou pro meio da rua
no ponto onde o sentira horas atrás e vejo uma casa pintada na cor-de-abóbora
mas, horas atrás não havia nenhuma casa naquela cor. Mas que estava pintava na
cor de abóbora, ah se estava.
Segui adiante, dobrei uma esquina,
fui ao fim da rua, outra esquina... bem, achei de olhar pra trás. O asfalto, as
casas, as pessoas, tudo, nada era da cor abóbora, mas que estavam da cor do
amor de mãe, ah estavam.
(JRToffanetto)
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