Rubem Alves (1933-2014) |
"Muito tarde aprendi os limites da palavra. Alguns pensam que
seus argumentos, por sua clareza e lógica, são capazes de convencer. Levou
tempo para que eu compreendesse que o que convence não é a “letra” do que
falamos – é a “música” que se ouve nos interstício de nossa fala. A razão só
entende a letra. Mas a alma só ouve música. O segredo da comunicação é a
poesia. Porque poesia é precisamente isto: o uso das palavras para produzir
música. Pianista usa piano, violeiro usa viola, flautista usa flauta - o poeta
usa palavras." (Rubens Alves em (Envelhecendo XIII - Fiquei
velho, do livro “As cores do crepúsculo: A estética do envelhecer”.
Ed.Papirus)
Assim que li o texto acima, uma delicadeza musical, voltei as páginas do livro à pura emoção de "Um certo olhar, III. O Crepúsculo", uma extrema delicadeza, uma essência no ar, o belo cantando na alma, uma emoção a nos consubstanciar. Escreve-nos assim:
"Um dos livros mais lindos que já li é A chama da vela, de Gaston Bachelard. É uma meditação sobre a velhice. Mas o escritor, talvez por pudor, medo que o leitor abandonasse o livro antes de lê-lo - pois quem se interessaria pela velhice? - preferiu fazer silêncio. E, ao invés, falou sobre a chama de uma vela. Imagino que é provável que ele tivesse se sentido como eu, diante dos olhos de alguma mulher que lhe tivesse feito alguma gentileza. Ou como Frost, que via medo nas uvas já queimadas de geada. Bachelardd também foi tocado pela uvas outonais. Mas ele via nelas coisas que Frost não viu:
Quando o sol de agosto já trabalhou as primeiras seivas, o fogo lentamente vem até o cacho. A uva clareia. O cacho transforma-se num lustre que brilha sob o abajur de folhas largas. Foi para cobrir o cacho de uvas que a pudica folha da vinha primeiro serviu."
Manto de estrelas cobre o crepúsculo e o descobre em aurora, o nascimento, a vida em primavera, ciclicamente nova e bela da última chama da vela. Somos a vela. (JRToffanetto)
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