segunda-feira, 16 de julho de 2018

Passa lá em casa (crônica de 2012)

Charge de Rodrigo Curtiy Pires

Vendo duas pessoas se encontrando na rua: 

- Oi "fulana", que bom te ver... passa lá casa pra gente conversar um pouco. "Beijinho-beijinho-thau-thau". Assim ocorreu, e o "sicrana" escapou em passos largos. Nem deu tempo pra outra pessoa dizer nada, só "oi" e pronto, foi despachada, "deletada" com a mesma rapidez de um clique no teclado do computador.

Esta história do "passa lá em casa" sempre se repete depois dos tapinhas nas costas no encontro de amigos(as) ou conhecidos(as). Sugere vontade de prolongar a satisfação do encontro, quase uma jura de eterna afeição, quase um exercício da simpatia em meio à chamada dos compromissos do dia a vencer. Faz parte de um conjunto de delicadezas, digamos: humanizantes  por relevar o valor do outro, colocando-o "pra cima": "Que bom te ver." "Estou feliz por te reencontrar." "Tudo azul com você?"

Na verdade disse para o outro com o tal "Passa lá em casa": "Você me atrapalha, não me enrosque, não me grude, porque não vou perder meu tempo com você, e se passar lá em casa estarei apenas virtualmente e te garanto: com pressa para sair."

É o subliminarmente dizem com o "passa lá em casa" depois dos indefectíveis tapinhas nas costas. Masss...E se a pessoa encontrada fosse o último ser humano vivo no planeta? E se um dos dois morresse, seria enterrado pelo "amigo". 

Jairo Ramos Toffanetto

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