A vassoura
A vassoura é certamente uma das máquinas mais úteis e poéticas. Como dança! Vem de tradição ilustre. Vassouras das feiticeiras das noite de Valpurgis, vassouras das feiticeiras de Shakespeare, vassouras parentas do barão de Vassouras. Tem-se varrido tanto desde que o mundo é mundo: a vassoura varre mais do que o próprio vento.
Mas ainda existem muitas coisas, pessoas e sistemas a serem varrido, ahimé
A postos, sólidas vassouras da terra, varrei os lados negativos da vida e da organização social, varrei, varrei, varrei! De olho e ouvidos atentos vos aplaudiremos.
Vassouras não de ouro ou prata: de madeira, piaçava ou rabo de cavalo. Uma ilíada em marcha, e comprada a prestações! Compraremos a prestações também o saldo dessas categorias "superadas", o belo, o bem, o verdadeiro?
O vaivém, o ritmo dissonante das vassouras rodando no espaço lustroso do pavimento, que recebe embora padecente (às vezes estala protestando) a sujeira, a poeira de nossos passos passados presentes e futuros, passos perdidos no paço, nas cabana, esperando o impulso violento da vassoura final. Murilo Mendes
Poliedro , publicado em 1972 pela Livraria José Olympio Editora
Poliedro, em 2017 pela Companhia Das Letras
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