De todas as super-hiper-bandas que povoaram a década de setenta, Jethro Tull talvez seja uma das únicas que ainda hoje cria singular estado de auscultação sonora musical. Curto seus discos também através do meu filho Yuri que sempre está revivendo um ou outro, seja em vinil, seja através dos seus próprios CDs. É a banda que mais me acompanhou por estas décadas todas e ainda roda em meu velho pick-up "Garrard". Depois de ouvir Back Door Angels, p.ex., você pode desligar a aparelhagem de som e não ouvir mais nada. Sentir este som é estar dentro de uma obra prima. Quando assim, você a carrega com você. (JRT)
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Jethro Tull- Back Door Angels
De todas as super-hiper-bandas que povoaram a década de setenta, Jethro Tull talvez seja uma das únicas que ainda hoje cria singular estado de auscultação sonora musical. Curto seus discos também através do meu filho Yuri que sempre está revivendo um ou outro, seja em vinil, seja através dos seus próprios CDs. É a banda que mais me acompanhou por estas décadas todas e ainda roda em meu velho pick-up "Garrard". Depois de ouvir Back Door Angels, p.ex., você pode desligar a aparelhagem de som e não ouvir mais nada. Sentir este som é estar dentro de uma obra prima. Quando assim, você a carrega com você. (JRT)
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Encontrando-me com Francisco de Assis
FotosJRToffanetto em 29.10.2014
na Igreja São Francisco, R. Borges Lagoa/SP
Tudo o que eu sabia de São Francisco é que ele foi uma grande mente até que, na semana passada, por não caber flor no quarto do hospital (não que eu não soubesse disto), a Regina me pediu para que eu a deixasse em algum oratório da Igreja São Francisco e lá fizesse uma oração. Até então eu nunca fizera uma oração, ou pelo menos não como aquela. As palavras vinham em minha mente.
Enfim, aprendi amar aquele que amou o Amor.
JRToffanetto
na Igreja São Francisco, R. Borges Lagoa/SP
"...aqueles que se unem a Deus obtém tres grandes privilégios:
onipotência sem poder, embriagues sem vinho e vida sem morte.
São Francisco de Assis"
Tudo o que eu sabia de São Francisco é que ele foi uma grande mente até que, na semana passada, por não caber flor no quarto do hospital (não que eu não soubesse disto), a Regina me pediu para que eu a deixasse em algum oratório da Igreja São Francisco e lá fizesse uma oração. Até então eu nunca fizera uma oração, ou pelo menos não como aquela. As palavras vinham em minha mente.
Ontem eu voltei à igreja, mas desta vez para me encontrar com o silêncio. Encontrei-o nos vitrais com o santo dizendo que "a chuva é humilde", que "o fogo é lindo", que "as estrelas são claras e preciosas". Sabia que pela sua integração com o Todo, a Poesia Maior passava através dele, mas desconhecia o fato de ele a expressar de forma tão simples quanto generosa.
JRToffanetto
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Sarah Vaughan - "You've Changed" e "I Gotta Right To Sing The Blues(w/ The Count Basie Orchestra)"
"You've Changed"
Written/Composed
by Carl Fischer & Bill Carey.
Written/Composed
by Carl Fischer & Bill Carey.
https://www.youtube.com/watch?v=rXBpVctOEVw
"I Gotta Right to Sing the Blues",
Harold Arle (Compositor)
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Deu Zebra (Subúrbio Jdí-SP em crônica - 4)
Google Imagens (reeditado) |
O trem para na Estação Perus e as portas se abrem. Em uma delas ninguém sai e não há espaço para ninguém entrar. Três negões impedem que elas se fechem e que o trem saia. As pessoas, inibidas pelo tamanho dos "caras" se ajeitam daqui e dali abrindo espaço para eles. As portas estão a um palmo de se fecharem quando um velhinho, tentando embarcar, trava-as com o pé e as portas novamente se abrem.
Ele tenta abrir espaço entre os negões. Um deles se vira pro
velhinho e lhe diz que não cabe mais ninguém. Irritado, o velhinho força abrir
caminho entre eles. O negão espana-o pra fora e até com certo cuidado para que
ele não caia na plataforma. A porta do trem finalmente se fecha. Do lado de
fora o velhinho lhe xinga a mãe e, depois, acrescenta:
- Vem prá fora que eu vou te mostrar uma coisa.
Ao longo da composição de vagões, por algum motivo as portas se reabrem. Pois o negão, postado entre
elas, imobiliza o velhinho pegando-o pelo pescoço e com a outra mão lhe dá dois
tapas, um com a palma e outro com as costas da mão direita. Vira-se para o lado
de dentro do vagão e as portas se fecham às suas costas. O trem parte.
Ninguém arriscava olhar pro negão. Todos estavam apopléticos com o
que viram ou, pelo menos, até que um barrigudo espirra e se segue uma voz
feminina exclamando com nojo:
- Pronto, lavaram o meu braço.
Risos discretos em redor. Mas alguém, perdido
no meio daquela aglomeração de gente, solta esta em bom tom de voz:
- Porque este verme não espirrou no braço do
negão.
O riso foi geral e contínuo. Uma catarse. Até os negões riram.
Pra judiar um pouco mais do “cara de verme”, um outro ajunta:
- Aí ele ia ver que bicho ia dar. E outro mais:
- Bicho? Meu palpite é zebra, do primeiro ao quinto prêmio.
O que estava ao seu lado, talvez um colega, adverte-o dizendo:
- Se for tirar por você, vai dar é burro. Olha lá o tamanho do
negão, ele não tá gostando nada disto.
O Negão não parava de rir.
JRToffanetto
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Risos retardatários (Subúrbio SP/Jdí em crônica - 3)
FotoJRT - Estação da Luz - 27.02.2014 - 13:17 h |
Na Estação da Luz, quando as portas do trem se abrem, as pessoas entram como num estouro da boiada para o vazios dos vagões. Um lugar para se sentar é disputado ombro a ombro, e tudo pode acontecer. Um grito feminino se ouve e é seguido em tom repreensivo:
- Ai meu pé.
Pior quando alguém entra carregando uma caixa grande no meio do estouro
da boiada. Vai ao chão quem não é bom de braços e
pernas
Ou quando a bolsa de alguém é levada de roldão. A mulher a procura
desesperadamente entre as pernas das pessoas. Alguém a levanta no ar anunciando o achado. A bolsa segue de mão em mão por cima das
cabeças. Quando é aberta, a mulher chora de fazer dó.
Da estação da Lapa em diante, os vagões de lata seguem completamente
entupidos de gente, atutênticas latas de sardinha sobre trilhos.
Depois de um dia de trabalho, no suor do fim da tarde, algumas estão azedas, outras de pensamento ácido, e alguma no olhar, mas o trem segue mudo e bem ao contrário nas idas pela manhã quando grande parte conversa e tem até jogo de palitinho.
Depois de um dia de trabalho, no suor do fim da tarde, algumas estão azedas, outras de pensamento ácido, e alguma no olhar, mas o trem segue mudo e bem ao contrário nas idas pela manhã quando grande parte conversa e tem até jogo de palitinho.
Uma mulher quebra o silêncio e, em repreensão a alguém, solta um trem
desses em voz alta e, como nunca vi, o vagão explode em riso.
- Você quer fazer o favor de tirar esse seu miudinho da minha bunda!
Risos discretos e retardatárias provocavam novas ondas de risadas, mas aqui eu não ouso dizer descrever o que se imaginou.
JRToffanetto
Links para "Subúrbio SP/Jdí em crônica":
domingo, 26 de outubro de 2014
XCVI Expo Imagens - Colhendo imagens
FotosJRToffanetto
Colho imagens do que toca em mim. Algumas vem prontas, outras pedem estudo. Sinto o privilégio de nelas laborar. Elas estão por aí, fluindo para o sentir. Às vezes, ao toque das mãos, na escolha da posição do corpo, do movimento em contagem regressisva, da observação meditativa entrando em outro espaço de tempo, das surpresas vistas no instante do disparo ou só na revelação. Enfim uma aventura para além do olhar, para o sentir. (JRToffanetto)
Colho imagens do que toca em mim. Algumas vem prontas, outras pedem estudo. Sinto o privilégio de nelas laborar. Elas estão por aí, fluindo para o sentir. Às vezes, ao toque das mãos, na escolha da posição do corpo, do movimento em contagem regressisva, da observação meditativa entrando em outro espaço de tempo, das surpresas vistas no instante do disparo ou só na revelação. Enfim uma aventura para além do olhar, para o sentir. (JRToffanetto)
21.10.2014 - 18:20 h - R.Borges Lagoa/SP |
12.10.2014 - 11:07 h - R.das Pitangueiras/Jdí |
12.10.2014 - 10:13 h - R.das Pitangueiras/Jdí |
20.10.2014 - 19:14 h - H.Rim/SP |
Hoje pela manhã na feira de hoje na Av.Samuel Martins/Jdí |
Alban Berg - Nine Short Pieces
Neoclássico
As três graças ouvindo a canção de Cupido, uma obra exemplar da estética neoclássica
por Bertel Thorvaldsen, Museu Thordvaldsen, Copenhague
Explosão das cores da vida.
Abro a internet para ver minha caixa de entrada de e-mails e vejo a foto abaixo em "imagens da semana".
- 23 de outubro – Yumurtalik, Turquia – Militantes do Estado Islâmico são surpreendidos por imensa explosão após ataque aéreo da coalizão que combate os jihadistas na fronteira da Turquia com a Síria.
Tudo bem que não há como ignorar os fatos, mas tudo tem uma razão de ser e, obviamente, enquanto produto da mente humana.
A Paz é uma conquista daqueles que mudam o homem para mudar o meio. Para mudar o homem é preciso começar por si próprio. Não existem milagres quanto a isto. Começa-se por esvaziar suas verdades pessoais para caber novos conhecimentos. Como esvaziar tais verdades que dizem respeito a um povo de mente engessada e o coração de pedra?
E olha que isto não é privilégio da gente do oriente médio. Por aqui, uma facção da torcida do Palmeiras conhecida como Mancha Verde matou dois santistas na saída de um jogo de futebol do campeonato brasileiro. Fanatismo por bestialidade. Por outro lado, conheço muito palmeirense que jamais sairia com pedaço de pau caçando santista, corintiano ou são-paulino pelas ruas.O que é preciso é quebrar o gesso da própria cabeça.
Aí pensei "eu também tenho imagem pra mostrar", mas uma imagem que vale, no mínimo, para o trimestre, a estação da primavera: Ei-la:
FotoJRToffanetto em 14.10.2014 |
Da imagem que denominei como a do trimestre, é, pelo menos para mim, mais relevante do que a da explosão veiculada por todo canto do mundo.
Quero a explosão das cores da vida que é linda... ainda. Que é linda, sim. A generosidade das flores se espalha pelo ar e ganha ruas e calçadas, mas o homem enche sacos de lixo com elas. Reparem no topo da imagem acima. Pois no topo tem um saco de lixo cheio de flores, mas não é por causa disto que eu vou atirar pedra no meu vizinho incomodado com flores caídas em "sua" calçada. Coitado, ele ainda nada sabe da beleza, do encanto, da delicadeza, da perfeição. Quem sabe da árvore são os pássaros. Nesta árvore da foto, por exemplo, mora um bando de maritacas. Creio que vizinho que não gosta das flores também não gosta das maritacas tagarelando o dia inteiro sobre o seu telhado, coitado.
Dizia meu velho e bom pai que não existem coitados. Assim dizendo, seguia-se uma máxima popular de outros tempos "Coitado é filho de rato". Então eu lhe perguntava:
- Por que o filho de rato, pai?
- "Por que ele nasce pelado e não tem roupa para se vestir"
- Mas se não tem roupa para se vestir ele pode morrer de frio, pai?
- Pra que o filho não morra de frio, o pai deles, coitado, cava um buraco bem no fundo da terra, e lá é bem quentinho.
- Então se é quentinho é bom, né pai.
- Mas lá só é quentinho porque fica perto do inferno, meu filho.
- Então isto não bom, paiê.
- Acho que não, mas deve ser bom para eles. Talvez seja por isto que se diz que o rato é um bicho do inferno.
- Coitado, né pai.
- Isto mesmo, só que rato não é gente. E repetia o axioma:
"Coitado é filho de rato que nasce pelado e não tem roupa para se vestir".
Quero a explosão das cores da vida que é linda... ainda. Que é linda, sim. A generosidade das flores se espalha pelo ar e ganha ruas e calçadas, mas o homem enche sacos de lixo com elas. Reparem no topo da imagem acima. Pois no topo tem um saco de lixo cheio de flores, mas não é por causa disto que eu vou atirar pedra no meu vizinho incomodado com flores caídas em "sua" calçada. Coitado, ele ainda nada sabe da beleza, do encanto, da delicadeza, da perfeição. Quem sabe da árvore são os pássaros. Nesta árvore da foto, por exemplo, mora um bando de maritacas. Creio que vizinho que não gosta das flores também não gosta das maritacas tagarelando o dia inteiro sobre o seu telhado, coitado.
Foto JRToffanetto em 14.10.2014 |
- Por que o filho de rato, pai?
- "Por que ele nasce pelado e não tem roupa para se vestir"
- Mas se não tem roupa para se vestir ele pode morrer de frio, pai?
- Pra que o filho não morra de frio, o pai deles, coitado, cava um buraco bem no fundo da terra, e lá é bem quentinho.
- Então se é quentinho é bom, né pai.
- Mas lá só é quentinho porque fica perto do inferno, meu filho.
- Então isto não bom, paiê.
- Acho que não, mas deve ser bom para eles. Talvez seja por isto que se diz que o rato é um bicho do inferno.
- Coitado, né pai.
- Isto mesmo, só que rato não é gente. E repetia o axioma:
"Coitado é filho de rato que nasce pelado e não tem roupa para se vestir".
JRToffanetto
sábado, 25 de outubro de 2014
Canção de Amor da Floresta do Amazônas (Heitor Villa-Lobos) - Antonio Carlos Barbosa Lima
Executada ao violão, dá pra sentir em Canção de Amor o ambiente musical das ruas do Rio de Janeiro no início do séc.XX aonde (assim como em São Paulo e em outras cidades) eram percorridas por grupos de seresteiros e choristas, dos quais Villa-Lobos se compunha e, daí sua grande inspiração em sua obra musical que viria mais tarde. Abaixo segue Canção de Amor do trecho operístico de The Forest of Amazon, com Bidu Sayão. Também vale citar que Villa por muito tempo relutou compor The Forest Amazon para a Metro Golswin Mayer, Um belo dia ele aceitou compô-la mas livre do enredo do filme e que depois gerou atrito na adaptação. Pena que no YouTube não há o regristro completo desta obra, apenas pequeno trechos, aliás, talvez só a encontre em disco vinil, o que é de se lamentar em se tratando de uma das mais belas obras musicais já escritas pela humanidade. (JRT)
Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Victor Hugo e a Moça da Bolsa - Subúrbio Jdí/SP em crônica - 2)
Estação da Luz (Google Imagens) |
Nem me dou conta, mas o vagão do trem está quase lotado. Meus
olhos caem no piso sobre sapatinhos pretos de cadarço, formato masculino. Detenho-me
sobre curiosas meias pretas de bolinhas brancas em vertical. Subo os olhos. Pequenas
e femininas mãos cansadas se soltam sobre o colo, mas logo se cansam.
Sobre uma surrada calça preta de vinco as palmas das mãos
viram-se como o desabrochar de uma flor já exaurida, como uma oração pro alto. Os
joelhos juntos... era uma mulher, uma pequenina mulher. À frente do seu rosto
havia uma mochila de alguém agarrado ao balaustre.
Horário de verão: 14:30 h. Trinta graus lá fora. Camiseta de
vermelho desbotado e com manga até o punho, aliás, tudo o que ela vestia era de
reaproveitamento de uso.”Tadinha”, sentia eu ao pensar que talvez ela nem se
lembrasse da última peça de roupa que comprara para uso próprio.
Duas paradas adiante e vejo uma bolsa da última moda sobre o
seu colo. Certamente ela estava acompanhada, e por sua filha, pois segurava a
bolsa como se fosse a coisa mais importante da vida dela. Pensei: seria aquela
senhorinha um anjo que andava no subúrbio?
O trem segue e depois de algumas estações alguém sai de
frente da moça. Ela era grande, forte, com brilhos nos olhos e vendia beleza e
saúde - talvez uns dezoito anos de idade. Vestia-se impecavelmente como à uma
entrevista para emprego. A bolsa combinava com os demais tons em pastel que ela
vestia com descrição e elegância.
Sua perna esquerda cruzava à frente da senhorinha e o braço
direito circunda-a em descanso sobre o banco. Toda em sorrisos conversava com
alguém sentado depois da mãe, um tipo de malandro já sambado.
Ele, de compleição física semelhante à de um jogador de bola
ao certo, segurava a mão de uma outra
moça sem predicados de qualquer tipo de beleza a não ser volumosos seios e que parecia
não se importar com o que acontecia ao seu lado ou da indiferença do tal malandro
para com ela.
Estações adiante e já não havia ninguém impedindo minha
visão da senhorinha. De cabelos secos, lavados a sabonete, carregava nas mãos e
no rosto as marcas do massacre pela vida. Certamente ela teria uns vinte anos a
menos dos sessenta que aparentava.
O celular toca dentro da bolsa. Abre-a e dá o aparelho para a filha
que o desliga devolvendo para ser guardado na bolsa. Desta vez ela segura a
bolsa com as duas mãos sobre as alças. Novamente vejo-a como em oração. Apesar
das agudas e lancinantes discrepâncias, ela era, sem dúvida, a mãe da moça.
Finalmente o subúrbio chega à última estação. Desço primeiro
que eles. Quando saem do trem vejo que a namorada do malandro escafedeu-se. Do
alto da escada rolante, acompanho-o descendo de mãos dadas com a moça
e sua bolsa. E a senhorinha? Esperei, esperei, e não a vi passar.
Meus pensamentos se voltaram para o lado cruel da sociedade
humana e, de repente, na Estação da Luz me encontro com Victor Hugo. Em “Os
Miseráveis” ele cita três problemas do século XIX: “a degradação do homem pelo proletariado, a
prostituição da mulher pela fome, a atrofia da criança pela ignorância.”
Em pleno século XXI, o anjo do subúrbio era apenas uma
sobrevivente da fome, ela e a filha. A moça da bolsa era o seu maior
investimento, e suas orações se transmutaram para um extremo conflito interno. Enfim...
quanta dor...
JRToffanetto
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Maria Regina e eu - A propósito de Vivaldi
FotoJRToffanetto
A Regina e eu/ |
Enamorava-me por ela, cada vez mais, dia após o
outro. Cada vez mais, um instante após o outro. Cada vez mais, ano após
ano, todos os anos, anos inteiros, e ainda é assim, cada vez mais.
Este meu blogue foi um desejo dela
manifestado quatro anos atrás. Um veículo onde materializo meu gosto pela
escrita. Nele também posto músicas que estão tocando-nos algum sentimento.
Quando namorados, certa vez ela me
telefonou da casa dela com um fundo musical. "A Primavera" de Vivaldi
tornara-se, então, eterna para nós.
Perguntei-lhe sobre Vivaldi, e ela me
contou ser ele um homem piedoso. Ensinava música para crianças rejeitadas pelas
famílias, ou por serem muito feias, ou por terem algum defeito físico.
Com elas Vivaldi se apresentava
publicamente com as cortinas cerradas. Como ele também estava à serviço da
música, se as descerrassem, certamente a plateia se esvaziaria.
A humanidade evoluiu muito desde o período
barroco de então, e eu também ao lado de Maria Regina, desde o período barroco, desde a
pedra e o tacape, desde o pó das estrelas. (JRToffanetto)
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
A Sra. do Orwell - Subúrbio SP/Jdí em crônica (1)
FotoJRToffanetto
Estação da Luz
em 27.02.2014
Há três semanas levei três horas para percorrer dez quilômetros da avenida 23 de Maio. Seguiu-se trânsito lento na Marginal Tietê. Um massacre, mas não para mim, pois aproveitei a oportunidade para meditar e até para fotografar o viés paulistano que, como flash, vez por outra avultava em meus sentidos. O rush da boca da noite não me engolfara.
Estação da Luz
em 27.02.2014
Segunda-feira optei pela conexão trem-metrô. Já no subúrbio de volta pra casa, no alto falante do vagão ouvia-se a cabine de operação anunciar o lado do desembarque. As portas se abriam e muita gente entrava e quase ninguém saia. Apoiava-me com as costas em uma destas portas automáticas. Chamava-me atenção uma senhora que lia um livro mantendo o equilíbrio do ombro a ombro com os demais e bem à minha frente. Um livro assustador para mim, pelo menos há quarenta anos: “1984” (George Orwell). Pensava eu que aquela mulher com idade não muito acima dos trinta chegara a Orwell depois de Matrix.
Passaram-se duas ou três estações abrindo e fechado as portas opostas à qual eu me recostara e, assim, perdi atenção nos avisos sonoros. Pois fui surpreendido com a porta se abriu às minhas costas. Ao me recompor do rápido desequilíbrio, a senhora do Orwell me enganchou o braço numa tentativa de eu não cair na plataforma ou até no fosso ao lado depois do encosto do vagão, mas eu já estava seguro sobre meus pés. Agradeci-lhe pelo cuidado prestado. Sua resposta foi um sorriso aliviado de que o pior não me ocorrera.
Seguido ao incidente, ela que estava meio de lado, posicionou-se frontalmente à mim. Ganhei uma guardiã, pensava eu quando, de repente, ela interrompe a leitura e por cima dos óculos de leitura volta os olhos para mim e examina minha sanidade. O olhar dela, saído do livro, e em contraponto àquele vagão matrixiano, denotava ver alguém da realidade comum a todos. Foi a conta para mim.
Olhando em redor, os mais próximos me olhavam de modo parecido, de olho branco. Assustei-me novamente. Eu poderia entender que isto fosse natural, afinal, o que mais aquelas pessoas poderiam fazer dentro do vagão apinhado de gente senão correr com os olhos, mesmo porque pelas vidraças só passava o escuro da noitinha. Pois então olhei para os lados até os fundos do vagão e tive outra surpresa:
Não encontrei uma única cabecinha branca naquele mundaréu de gente. Eu era o único de cabelos brancos em proeminência. Foi assim que pude, finalmente, entender o perscrutar do olhar da minha guardiã. “Pô!!! Ela não só salvara um velhinho como também cuidava dele. Um conforto para mim, pois isto não era Matrix, afinal, pelo que lobservei, não havia um com óculos escuros.
JRToffanetto
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Robert Plant - Rainbow | Official Music Video
Eu estou alcançando as estrelas
Do céu acima
Oh, eu vou trazer a beleza delas para casa
As cores do meu amor
Ooh, ooh, ooh
Ooh, ooh, ooh
Ooh, ooh, ooh, ooh, ooh, ooh
Led Zeppelim - Thanl you
Robert Plant escreveu esta canção,
uma declaração de amor à mulher de sua vida: Maureen.
- Ouça-a neste link:
- Juntos para sempre, eternamente.
Íntimas das flores
FotoJRToffanetto
Muitas mulheres são a materialização da Delicadeza, do Amor,
da Bondade.
Tudo dão de si. Primeiro é sempre o outro, afinal, este
precisa mais do que ela.
O egoísmo nada lhe diz respeito. Ele é de um conturbado mundo
paralelo.
Deixam uma marca de batom no planeta. Estão sempre o embalando no colo.
As mais caras orações são as delas. A própria ação da
magnitude, do Amor incondicional.
É fácil encontrá-las, basta seguir o rastro do perfume da
intimidade do cosmo, mas para alcançá-las é preciso estar leve, muito leve.
São íntimas das flores e seu encanto, mas com um elemento a
mais: a graça que nos alcança como uma estrela luminosa, terna e meiga.
Elas não são raras. Raros os olhos que a podem ver sem se
ofuscar.
São fluídos siderais materializados em mulher a nos ofertar joias
do Divino.
Pertinho de uma delas, não me canso de contemplá-la do meu
lado esquerdo.
Quis morar em sua pupila e ela veio morar em meu coração.
Depois ela me levou até o Jardineiro e dEle me tornei
aprendiz.
De mãos dadas seguimos o Caminho.
O Jardim é grande.
Vai até os confins do cosmo.
Jairo Ramos Toffanetto
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
domingo, 19 de outubro de 2014
Índia Tikuna Weena Miguel - Maracanade - Canto Indígena gravado em Ribeirão Pires/SP
Índia Tikuna We'e'ena Miguel é Cantora, Artísta Plástica,Presidenta Nacional das Mulheres Indígenas e esposa do Cacique Violonista Robson Miguel, que juntos realizaram a versão do canto tradicional indígena 'MARACANADE"que quer dizer "Grande Festa". A Letra diz: Vai começar a Grande Festa, onde todos os povos vão se reunir para contar e cantar a sua propria historia. Esta obra homenageia o povo Brasileiro, fruto da miscigenação de Indios com Brancos e Negros, e está no "DVD NOSSO ROBSON MIGUEL - AMO RIBEIRÃO PIRES" à venda no site www.robsonmiguel.com.br
Francisco Alves - Adeus Mocidade
Indicação musical de
Fernando José Colin
Francisco Alves - Adeus Mocidade
Gravação Colúmbia - 1941
Samba de Roberto Martins e Benedito Lacerda.
lançado um pouco antres do carnaval
Dizzy Gillespie - Bebop
O dia, cheio de energia, acorda com todas as trombetas
Que esta energia alcance a todos que dela precisam,
e que se levantem a saudar algo maior que vem cantar
dentro de todos nós.
FotoJRToffanetto |
Game of Thrones Theme - Daniel Miranda (violão 7 cordas)
Yung Gaurama (19), está o dia todo estudando esta música e anda com o violãao pela casa toda, e até no banheiro - creio que testando a sonoridade. Entro no YouTube e verifico que a música é quase uma epidemia, dezenas de vídeos. Ouço também a original, com orquestra. Mas fui seduzido pela sonoridade do violão. Só me falta conferir o seriado de televisão e saber um pouco mais deste fascínio, Parece-me algo bom.
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
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