sábado, 21 de novembro de 2015

Crônica do meio-dia _...que o sabiá te acompanhe



- Bonita esta palavra: parágrafo!!!



Meio dia. Calor de verão em primavera abafada e úmida, claustrofóbica, sem saídas. Um vento repentino, surgido de onde ele sopra  murmurejou refrescante convite para me sentar à sombra. Mais um convite: ali, um sabiá cantava e cantava a Poesia. Deixei o asfalto se derreter ao sol no meio dia.

Alguém parou no meio da calçada olhando para mim como a marcar presença. Será que era eu quem deveria cumprimentá-lo? Fiquei com o sabiá, mesmo porque não o reconheci, mas ainda me perguntei ironicamente "será que ele quer pão?".

- Jairo, está tudo bem com você?
Sim, agora o reconhecia passados trocentos anos do ginásio Geva.
Respondi-lhe assim:
- Você está ouvindo o sabiá?
Sentindo um golpe do inesperado, saiu do imobilismo pelo inesperado da minha resposta, exclamou com ironia:
- O Sabiá!...
Sorri ao lhe responder:
- É, o sabiá cantando, não te disse?
Com desafeto no seu mal disfarçado sorriso exclamou:
- Entendi, depois a gente se fala. Vou indo.
- Pois então que o sabiá te acompanhe, meu caro.

Novamente estupefato à minha frente, ao olhar seus cabelos tingidos entrevi que quando ele perguntou se estava tudo bem comigo, melhor lhe ficaria se eu respondesse “maravilha” e logo encordoasse qualquer tema sobre futebol, tipo: "tirando meu time do brasileirão..." mas eu já não colegial. Talvez se perguntasse o que ele andava fazendo na vida desse-lhe a chance de ele saber o mesmo de mim, era o que ele queria saber. Os olhos dele me pareciam secos, de vidro. Enfim, pareceu-me que lhe dizer “que o sabiá te acompanhe” fora o mesmo “que o diabo te carregue”, pois ele, que pena, saiu pisando duro. Quem não faz conta do canto de um sabiá bom sujeito não é.

JRToffanetto

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