- Bonita esta palavra: parágrafo!!!
Meio dia. Calor de verão em primavera abafada e úmida, claustrofóbica,
sem saídas. Um vento repentino, surgido de onde ele sopra murmurejou refrescante convite para me sentar à sombra. Mais um convite: ali, um sabiá cantava e cantava a Poesia. Deixei o asfalto se derreter ao sol no meio dia.
Alguém parou
no meio da calçada olhando para mim como a marcar presença. Será que era eu
quem deveria cumprimentá-lo? Fiquei com o sabiá, mesmo porque não o reconheci, mas ainda me perguntei ironicamente "será que ele quer pão?".
- Jairo,
está tudo bem com você?
Sim, agora o
reconhecia passados trocentos anos do
ginásio Geva.
Respondi-lhe
assim:
- Você está
ouvindo o sabiá?
Sentindo um golpe do inesperado, saiu do imobilismo pelo inesperado da minha resposta, exclamou com ironia:
- O Sabiá!...
Sorri ao lhe
responder:
- É, o sabiá cantando, não te disse?
Com desafeto no seu mal disfarçado sorriso exclamou:
- Entendi, depois
a gente se fala. Vou indo.
- Pois então
que o sabiá te acompanhe, meu caro.
Novamente
estupefato à minha frente, ao olhar seus cabelos tingidos entrevi que quando ele perguntou se estava tudo bem comigo, melhor lhe ficaria se eu respondesse “maravilha” e logo
encordoasse qualquer tema sobre futebol, tipo: "tirando meu time do brasileirão..." mas eu já não colegial. Talvez se perguntasse o que ele andava fazendo na vida desse-lhe a chance de ele saber o mesmo de
mim, era o que ele queria saber. Os olhos dele me pareciam secos, de vidro. Enfim, pareceu-me que lhe dizer “que o sabiá
te acompanhe” fora o mesmo “que o diabo te carregue”, pois ele, que pena, saiu
pisando duro. Quem não faz conta do canto de um sabiá bom sujeito não é.
JRToffanetto
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