Fotografia abstrata de Amanda Gordon |
Masqüal, o inseto voador
Ao me dar conta da falta dos óculos
diante da tela do computador, sincronizou-se-me a imagem de diminuto inseto voador
que dias atrás se debatia contra uma parede branca.
Eu estava sozinho em uma sala de
espera em atenta desatenção sobre o tal inseto. Vendo a extensão da
parede imaginei que ele, depois de tantas tentativas em vão, voasse em campo
aberto, como os demais insetos atraír-se-ia pela luz do dia passando pela porta aberta, mas qual, ele só voava
batendo-se para o lado esquerdo.
Mas... sabia aonde chegar? Perderia o rumo caso saísse pela porta? Procurava alguma coisa? Uma cavidade qualquer para nidificar? O que dominava sua existência, a própria limitação dos sentidos, talvez? Mas qual, voava no quadrilátero daquela sala de espera do tamanho de um universo.
Finalmente, ele entra em uma sala escura. Seria Masqüal um inseto noturno perdido no dia
luz? Fugira da luz voando a dois palmos do chão? Sinistro, mui sinistro...
Fugia de algum predador
natural? Era a escuridão que procurava? A sala lhe era um escuro
buraquinho na terra?
Tinha quebrado, avariado uma das asas, daí o fato de só ir para um lado? Mas qual, ele não ia a lugar algum. Como esperar que ele se movesse de si mesmo? Mas... o que eu, afinal, não conseguia enxergar?
Na falta dos óculos aumentei o tamanho das letras para
escrever este texto. Uma coisa é certa: os cinco sentidos são limitados tanto
quanto reflexões compostas por observações empíricas ainda que metódicas.
Enfim, rastreando a saga daquele diminuto inseto voador, por onde caminha a
humanidade sempre vinha à mente. Ela sabe aonde quer chegar? Tem algum caminho
claramente delineado por todos, um a um. Ela sabe aonde quer chegar como
indivíduos que formam uma nação?
Mas qual, tanta gente só andando de lado e se debatendo o tempo todo para, no fim, acabar num quarto escuro ainda que sentado num banquinho ao sol em frente do portão vendo o bonde passar à luz do dia? Vendo? Quebrou, avariou as asas tentando o voo livre? Mas qual, para voar é preciso, por primeiro, mover-se de si mesmo, vencer-se à luz do sol e das estrelas. Vencer a força de atração da terra e das coisas da terra, pois, do contrário só lhe resta bater-se contra a parede sem nunca saber responder de onde veio, pra que veio, onde está, e para onde vai - se é que vai - (?). Masqüal construiria um novo caminho se alcançasse estas respostas.
JRToffanetto
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