Espelho
Entro no espelho e o vejo encaixado na porta pelo lado de dentro do guarda-roupa. Cheiro de amaciante de roupas. Não converso com meus botões. São as camisas que falam por eles, o de garantir o alinho do abraço delas em mim. Mas as camisas... Dizem-me que eu as visto e as esqueço, e quando, elas ficam integradas em mim carregando até o meu cheiro. Dizem gostar mais dele do que deste ou daquele desodorante, e que isto não é exclusividade minha, mas das camisas de todos os guarda-roupas pelo mundo, ou pelo menos daqueles que gostam de si mesmos e de suas camisas, pois estes vão ao encontro dos outros. Ao se abraçarem elas se encontram com suas irmãs e até com suas primas, as camisetas. De repente, pelo buraco da fechadura entra um facho de luz fosforescente e a porta se abre. Toco todas elas com a mão. Com muitas delas contra o rosto, descubro que as amo. Fechei a porta e me olhei no espelho. Eu estava sem camisa.(JRToffanetto)
Ouvindo Harmony of the Sfheres (Joep Franssens), o Yuri me mostra seu último poema, o qual, me inspirou o texto acima logo depois de o agradecer ao Yuri. Veja-o:
"Entrei dentro do espelho
E me vi do outro lado,
Quartos apagados,
A sala vazia,
O meu olho luzia.
O escuro era mais claro,
Refizera-me sombra,
Coisas gravitavam nas paredes,
Os livros não tinham título
Amanheceu-se no mesmo lugar.
(Yuri Ulrych)"
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