Não é a primeira vez em que me surpreendo com um gafanhoto em meu carro. No ano passado, tive que parar o carro em frente ao sombrio e emblemático "escadão" antes de sua desastrosa remodelação para a memória afetiva da cidade. Soltei sua perninha presa na borracha do vidro lateral imediato a mim. Arremessei-o contra a luz para vê-lo voando livre, partindo para a noite escura.
Desta feita, 21 de junho - na intercessão do outono para o inverno, avistei-o subindo da lateral para o teto do carro. 23h07. Fotografei-o várias vezes e fui pro Dom Olivio tomar café com a Regina e o Yuri. Pois, já com o carro na garagem de casa, o gafanhoto ainda estava lá, no teto. Perguntei-me de como ele conseguira se prender ali contra o vento por mais de seis quilômetros em velocidade média de 60 Km/h. Suas patinhas aparentemente delicadas mostraram-se poderosas, próprias de um dos mais vorazes predadores do planeta. Carona que não foi!
Assim pensava enquanto o fotografava seguidas vezes, e mais: teria sido atraído pelos flashes da máquina fotográfica, e queria mais dos instantâneos luminosos que o paralisaram? Enfim, quem pode me responder? Mas gostei da nova oportunidade de registrar esta aventura "gafanhotina" e do aleatório que a reveste. Enfim, a sessão se encerrara, e como o acaso não existe, nem as coincidências, bem sei que "tudo tem uma "razão de ser e estar". Acredito no privilégio destes contatos com bizarra criatura , tanto na primeira visita quanto nesta de sexta-feira passada.
Pensando na hipótese de o gafanhoto ter se cegado com flashes de luz contra os olhos, foi uma possibilidade que eu não pude evitar, mas que pode anular-se pelo fato de na manhã seguinte não tê-lo encontrado nem no carro, nem nas plantas da garagem, teto ou piso. Se sofreu tais golpes de luz, é bem possível ter recobrado-a ao longo da noite e, por fim, foi embora. A menos que uma lagartixa tenha subido pela roda e fatalmente alcançou-o, abocannhou-o.
A pouco, o Yung, que nada sabia desta história, chama-me pra me mostrar o gafanhoto pousado em seu capacete. Peguei-o por trás e, como da primeira vez, arremessei-o contra a noite escura. Ainda tentou, atraído pela luz, voltar pra área. Bloquei-o gestualmente. Agora, será que o inseto,cumprido sua sina predatória, esteve deixando ovos nas folhagens da garagem? Resta-me esperar pra ver, ou melhor, pra não ver. De todo modo, a lição ficou aprendida:
Depois do fotografar, deveria eu, imediatamente, levado o gafanhoto pra longe e arremessado-o na noite escura. Um predador será sempre predador, e como tal cumprirá os ditames da sua natureza, sempre.
(JRToffanetto)
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