quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Ossip Mandelshtam A CONCHA (1911)

Ossip Mandelshtam

*A CONCHA (1911)




















Talvez te seja inútil minha vida,
Noite; fora do golfo universal,
Como concha sem pérola, perdida,
Me arremessaste no teu areal.

Moves as ondas, como indiferente,
E cantas sem cessar tua melodia.
Mas hás de amar um dia, finalmente,
A mentira da concha sem valia.

Jazer só a seu lado pela areia
E pouco faltar para que a escondas
Nesse casulo onde ela se encandeia
à sonora campânula das ondas,

E as paredes da frágil concha, pouco
a pouco, se encherão do eco da espuma,
Tal como a casa de um coração oco,
Cheio de vento, de chuva e de bruma...

Notas: 
1. Ossip Mandelshtam morreu em um campo de prisioneiros stalinista, em 1938, na Sibéria. Em 1977, foi nomeado um planeta menor 3461 Mandelshtam, descoberto pelo astrônomo soviético Nikolai Stepanovich Chernykh.
2. Poema de tradução desconhecida.
* Até hoje, nunca um poema me emocionou tanto quanto A Concha, escrito aos vinte anos de idade e, creio eu, diante de uma configuração inelutável para o seu estado de ser e estar, talvez uma premonição do que lhe ocorreria décadas depois, a qual ele a precipita por si mesmo, pois, em desassombro, executa seu destino por si mesmo e não por outros. Enfim, os mais próximos a ele disseram que sua atitude foi qual um auto suicídio, mas quem pode dizer o que se passa dentro de um poeta, e como Ossip, extremamente sensível ao meio dominante na forma de poder, e este, notoriamente abjeto à sua individualidade livre e criativa, temerária, portanto.(JRToffanetto)

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