"Sentado num banco". FotoJRT3713 - R. Dr. Olavo Guimarães - Jundiaí/SP
|
"poeta é o que
encontra uma moedinha perdida"
escreveu o poeta Mário Quintana. O todo, tudo está na moedinha, é o que o poeta encontra. A história da humanidade, p. ex., ou também da memória do já visto e sentido por ele e encontrado na duração de um instante, um inusitado arremate? Pode ser. Todavia, sinto que o poeta faz deste verso um abrir de porta para dizer que todos são poetas, afinal, quem nunca encontrou uma moedinha? Mas ela
é o que não prestamos atenção ao seu valor pelo sentir e, por não o reconhecermos, ele sumiu da vista e se perdeu.
Nossos sentimentos são tão amplos e nos ocupamos com tanta coisa fora do sentir. Dois maiis dois é quatro só na aritimética. O poeta faz outra razão.
O sentir de uma imagem fugidia, poética, ou um resultado apresentado num detalhe que não abrimos para o sentir porque veio de passagem. Assim, a linguagem do eu natural vai se tornando sem expressão, raquítica quando muito, mas é ela que nos permite vislumbrar a essência humana tal qual ela é. Negamos o contato com estar consigo próprio, o que há de mais caro em nós, ou pelo menos para aqueles que descobriram seu valor, sua origem, seus princípios eternos, e desde que encontramos a moedinha perdida e de valor medido com peso estelar.
Talvez seja por isto que, num outro momento ele expressa:
"sonhar éacordar-se para dentro"
pois,
afinal, não seria desta projeção para dentro a vital irradiação para o meio ambiente em caráter de
materialização criativa já não mais para si mas para todo o universo? Tange o “religare”. A
moedinha perdida a que refere Quintana pode estar no chão ou em qualquer lugar, mas para além do níquel, cobre ou bronze. Ele poetiza a moedinha que está dentro, perdida em nosso microcosmo. É ela que nos dá passagem do cosmo interno para o externo e, aqui, também cabe o vice-versa: a moedinha encontrada no chão. A questão não está na moedinha, mas no encontro do que se perdeu e que só pode ser encontrado pelo sentir.
Quem
encontra a moedinha perdida é aquele que pode ir para além dela e, a isto, Mário
Quintana chamou de poeta.
Jairo Ramos Toffanetto
Nenhum comentário:
Postar um comentário