Antes da
meia-noite, véspera de Ano Novo, eu voltava de São Paulo pela Av. 23 de Maio quase vazia, apenas uns
carros pingados. No primeiro semáforo depois da Pinacoteca, um homem andava de
lá pra cá com a mão estendida e nenhum dinheirinho ele ganhava. Neste dia,
diz-se "Boas Festas" e, em troco, ganha-se alguma coisa. O semáforo abriu passagem. Um
cara no carro de trás me advertiu com um farol alto escurecendo ainda mais o
dantesco daquilo.
Em moedas,
eu tinha acertado R$ 2,30 para inteirar com uma nota de cinco reais que eu
previamente separara para o pedágio. Eu as puxava do console e elas caiam no
assoalho O homem não parava de falar, e nada inteligível. A buzina do carro de trás buzinou soou em repreensão. Dei
ao homem os míseros trinta centavos soçobrantes. Não lhe desejei Boas Festas
com isto, ou Feliz Ano Novo por isto. Ele não parava de falar de modo
incompreensível e, assim, pegou as moedas.
Colocou-as no
bolso da bermuda e se dirigiu ao carro de trás. Não saí da frente do todo poderoso de “carrão”. Deixei-o se
entender com o pedinte. Do retrovisor eu vi que ele nem o olhara. O pedinte
batia e batia no vidro fechado. Buzinava e buzinava pra mim enquanto alternava
luz alta e baixa contra meu retrovisor. Deveria estar escamando palavrões aos
bafos de jiboia, e daqueles cabeludos e bem casposos, casporentos.
Tanto o
pedinte quanto o “poderoso” eram igualmente ininteligíveis
para mim. Deveriam estar de caco cheio até o gargalo. Esperei o sinal amarelo e parti deixando o vermelho
para o “poderoso”.
De caco cheio nada mais cabe muito menos paciência ou
repeito para com o próximo.
Parte 1: http://poemas-de-sol.blogspot.com.br/2014/01/de-caco-cheio-ou-vazio-neste-primeiro.html
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Jairo Ramos Toffanetto
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