quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Agência Bancária em Crônica


Dentro de uma minúscula e apertada agência bancária da Av. Jundiaí, uma espalhafatosa e intermitente advertência sonora põe meus olhos num mostrador digital aonde minha senha preferencial pisca em vermelho  Pensei "pra que tanto alarde se quase dava para ouvir os sussurros das atendentes. Chamar o cliente pelo soletrar do seu número seria mais delicado, menos autômato, mais humano, menos estressante."

Mas, para muitos, aqueles que estão a reclamar do chá de espera,do banco, da falta de tempo, do tempo e por aí afora, tal berrante soa como um "Simsalabim", e num catártico passe de mágica, seguem ao fadário aparentando incompreensível satisfação. Tiram-lhe até o último centavo, e na falta deste, até as cuecas.

Eu estava à frente da atendente que conversava animadamente com a outra sobre futilidades. Não havia um cliente sua frente mas uma de senha. Faltava-me uma tecla de advertência sonora para chamá-las. Pelas barbas de São Tomé!, pelos meus cabelos brancos, tomavam-me como um bondoso e passivo velhinho, ou mais basbaque admirador da vitrine de bonecas "barbie" e mais um massacrado pelo sistema devorador de miolos.

- Meu amigo achou um absurdo cem reais de consumação para ir à festinha de aniversário em uma balada da nove (Av. 9 de julho).
- Muito dinheiro para entrar em uma casa noturna, respondeu a caixa ao lado e do alto do seu casamento. filhos, contas a pagar e mundaréu de responsabilidades.
- Não acho, retorquiu a caixa à minha frente, cedendo-me um generoso sorrizinho de beldade às luzes da ribalta.

Tomava-me ela, além de tudo, por um doce boboca, uma gracinha, talvez. Sorrira com a certeza da minha aquiescência, mas topara com a minha cara fechada, e olha que eu já assustei muitos babacas ao franzir do sobrolho, mas ela, mostrando-se indiferente, virou-se para a colega dizendo:

- Sabe que é? Eu gosto de ficar alegre e nestas baladas as bebidinhas que tomo chegam a trezentos reais. Lá é tudo muito caro.

Com mil calcinhas e sutiãs, "lá" aonde? O sétimo céu? O Jardim das Delícias? O ilha da revistas "Caras" para panacas afins?

A outra nada lhe respondeu, mas eu não poderia deixar de fazê-lo já que pela condescendência do seu sorrisinho "xixi-girl" fora-me notório seu pedido de aceite em sua virtual rede social de vida privada revelada aos moldes do  nefasto Big Brother Brasil. Pedro Bilau? Eu? Mas que  diferença eu poderia fazer ao seu mundinho de cetim de seda e paetês. Pois eu lhes disse em tom categórico:  
- Vamos trabalhar, gente!!! 

Pareceram-se pegas sem calcinhas, como num assalto. A caixa ao lado perdeu a conta do dinheiro e o sorriso refrescante da beldade amareleceu. Repetidamente, seus dadivosos dedinhos levavam seus longos cabelos oxigenados para atrás da orelha como a indicar que ela precisava mesmo era de carinho, mas eu não estava ali pra passar talquinho, ao contrário, levantei-lhe o cheque a ser descontado à altura do seu rosto. Foi como disparar o gatilho, e cruelmente, abri um sorriso daqueles de quem ri melhor ri por último. E olha, não sei não se ela soltou urina. 

Pergunto-me: Aprenderam alguma coisa?

Estou adorando esta minha nova extra identidade preferencial. Pre-fe-ren-ci-al, pôxa! Por outro lado, como se diz por aí, "a idade vem chegando e a gente vai ficando ruim", né!!!


JRToffanetto

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