Por um cálice de néctar
O sol ainda não despontara na linha do horizonte. Vou pra
área de serviços e encosto o vitrô e a porta da cozinha para que a fumaça do
cigarro não entre pela casa. Acendo-o sentado na soleira da porta. Um
enorme vulto passa junto da minha vista esquerda. Percorro o ambiente e nada
encontro como causa a não ser uma diminuta abelha preta voando à procura de um
cálice de néctar e nenhum botão de flor estava aberto. Ela vai embora antes mesmo que eu pudesse me levantar para pegar a máquina fotográfica. Tento identificar o cheiro da atração apícola e não o sinto, mas certamente ele estava lá, sutilmente transformando o botão em flor. Reconheço que
embora eu não o identificasse pelo olfato não significava que um olor sutil deixasse de existir espalhado pelo ar ao alcance de delicadas criaturas aladas.
Pergunto-me da distância em que a abelha polinizadora o sentiu. É possível que ela, desde a barra clara do dia, vinha atrás daquele rastro ao encalço da flor, do cálice, da fonte. E sinto que todo o universo está vivo, em movimento, quer o vejamos ou
não, e que por um viés deste plano, a fração do Todo esteve ali, eterna, e que sempre esteve ao alcance da consciência. Enfim, como tudo tem uma razão de ser e estar, não foi por acaso que aquela abelha passou raspando por mim. (JRToffanetto)
FotoJRT |
Um comentário:
Grande Jairo. A mensagem de seu texto é muito interessante. Mesmo não conseguindo sentir o cheiro, ele existe, é material e aproximou a abelha. Quantas outras essencias existem e passam despercebidas por nós? Excelente reflexão. Abraços
Fernando Colin
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