domingo, 29 de maio de 2022

Pablo Neruda "SUBÚRBIOS" (do Livro Amarelo)

SUBÚRBIOS

Pablo Neruda

 








Celebro as virtudes e os vícios

que ultrapassam o refrigerador

e colocam guarda-sóis de cor

junto ao jardim que anela uma piscina:

este ideal ao luxo soberano

para meu irmão pequeno burguês

que és tu  e que sou eu, vamos dizendo

a verdade verdadeira neste mundo.


A verdade daquele sonho a curto prazo

sem escritório no sábado, por fim,

os desapiedados chefes que produz

o homem nos celeiros insolúveis

onde sempre nasceram os verdugos

que acham e se multiplicam sempre.


Nós, heróis e pobres diabos,

fracos, fanfarrões, inconclusos,

e capazes de todo o impossível

sempre que não se veja e não se ouça,

dom-juans e dom-juanas passageiros

na fugacidade de um corredor

ou de um tímido hotel de passageiros.

Nós, com pequenas vaidades

resistidas ganas de subir,

de chegar onde todos têm chegado

porque assim nos parece que é o mundo:

uma pista infinita de campões

por culpa de talvez todos os outros

porque eram tão parecidos conosco

até que roubaram seus lauréis,

suas medalhas, seus títulos, seus nomes.

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