"Era natural (...) que com a morte do famoso estadista e intelectual africano, biógrafos e outros investigariam todas as facetas pertinentes da vida pública e particular de Amílcar Cabral. Deste modo, a revelação mais ampla de Cabral o poeta, além de ser uma homenagem ao herói martirizado, faz parte da restituição da história de Cabo Verde (...) na inter- secção das três esferas. A projecção da poesia de Cabral é uma incorporação, consciente ou inconsciente, de um modo quase esquecido e de uma visão retros- pectiva deste momento."- Russel G. Hamilton in Literatura Africana Literatura Necessária- II. (fonte: FMSoares).
A minha poesia sou eu
... Não, Poesia:Não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai...
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo...
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.
- Amílcar Cabral, em "revista Seara Nova". 1946.
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