domingo, 12 de março de 2023

Poema "Assados ou grelhados" por JRToffanetto

Pena dos frangos de corte...

Só na ração, não unham o chão nem ciscam

nem abrem as asas, desconhecem o vento, céu aberto, um raio de sol

Vivem para comer, ganhar peso e nenhum laço afetivo com seu criador

Desta tragédia sem fim, 

cruelmente pendurados de pés amarrados, 

cabeça pra baixo, de frente pro ralo. 

Grito mudo de horror

Afiação da faca, a cada corte do pescoço de seus consortes

O esvair do sangue até a última gota.

Depenados, sem víceras assados ou grelhados, 

À mesa, faltos de nobreza, 

Eis os insaciáveis, vorazes mastigadores

Desconhecidos da Paz, da Felicidade

Nenhum agradecimento,

um pedido de graça para todos da casa

Nos pratos fartos, garfos e facas já tintilam 

Ditos consumidores,  praguejam-se de boca cheia

Regam-se com vinho ou cerveja à mesa de propósitos ocos, cupinizados.

Sem suco do amor paternal, da bem querência, da união

Gazosas pras crianças arrelientas que já vão aprendendo

a sonoridade dos arrotos, a linguagem dos olhos

maléficos enviezados. inquietação no tom escabroso do ermo longínquo, 

vibrações fracas, aborrecidas para elas, 

Movimentos inquietantes de sobrancelhas indecifráveis, 

Gestos de mãos e braços de cômica inutilidade, diretamente arremedáveis, tirando a temeridade dos ogros dali.

Pena... 

menos aos                                                indeglutíveis ogros.

_JRToffanetto

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