Com o meu carro na oficina, fui ao trabalho de bicicleta sentindo a aragem fresca da manhãzinha sem exigir mais que uma jaqueta de algodão sobre camisa e pulôver. Como medida de
segurança eu ia pela calçada, afinal a marginal do Rio Jundiaí na cidade é em
prolongamento de uma estrada intermunicipal e área de transito congestionado,
nervoso.
Parei à espera da saída de pessoas de um
trólebus estacionado à minha frente. As pessoas sentadas do lado das janelas
estavam com os olhos atirados pra fora. Mirei-os atentamente. Eles não olhavam
para lugar algum, isto é, pra nada em específico, pareciam de vidro, e isto me
proporcionou um sentimento algo ficcional: Gente sonambúlica indo ao trabalho
em autômato.
Ao subir a Av. Américo Bruno parei para ver a panorâmica da cidade Maysbel com a Serra do Japi ao
fundo.
O sol puxava a coberta de Mays enquanto
o joão-de-barro fazia
a vez do galo. Com extrema delicadeza, chamavam-na do seu sono de pedra:
- Acorda Mays! A-COR-DA!!! deste seu sono sonhado. É a Poesia.
Só mais tarde Maysbela saltou da cama. O café ela não
tomou. O dia colorou. Seus olhos de vidro ficou. Perdeu a manhã, o café, as
cores. Trabalhou trabalhou trabalhou e nem soube quem a amou.
Porque não a beijei nos olhos? Seus olhos eram de vidro.
JRToffanetto
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