domingo, 18 de outubro de 2015

Conto do ruído mental (paciência tem remédio)











Conto do ruído mental

Um conhecido me abordou estabanadamente no meio da rua e, de chofre, foi perguntando-me do Dr. Ramos.
- Lamento, mas não o tenho visto ultimamente.
- Então... é que não consigo encontrar o remédio da paciência em nenhuma farmácia, tô achando que não existe. Assim que o ver, por extrema gentileza, peça-lhe a fórmula. Aqui está o dinheiro da consulta e o um cartão com meu telefone de contato.
Bem, voltei encontrá-lo com a fórmula dentro de um envelope lacrado e em branco. Estendi-o a ele e lhe disse:
- O doutor me pediu para te dizer que faça bom uso disto.
- Sim, sim, respondeu-me ele arrancando a receita do envelope.
Sorriu ao ler e, enigmático, ficou parado à minha frente, depois me virou as costas e partiu andando como a dar um passo de cada vez.
Empertigado, voltei ao consultório perguntando ao doutor o que ele prescrevera ao meu conhecido.
- Qual foi a reação dele?
- Nada me disse, nem me agradeceu, virou as costas e foi embora. Acho que mereço saber o que aconteceu.
 - Vai me dizer que você quer uma receita para resolver o enigma que o tomou?
- Cê tá brincando comigo, né!
- Nosso tempo se esgotou, disse-me ele olhando para uma ampulheta. Dias depois encontro com o meu conhecido com o mesmo sorriso de quando lera a receita. Disse-me ele:
- Este Dr. Ramos não existe.
- Tanto existe que ele te passou a fórmula da paciência que pedistes.
- Cê me dá um abraço? Pois ele se adiantou e me abraçou tirando o pó das minhas costas.
- Então funcionou? O que estava escrito dentro do envelope que te dei? Como foi?
Só os seus olhos brilhantes é que me respondiam.
- Diga lá, meu caro, não me deixe ficar ansioso.
- Eu estava esperando por este dia, respondeu-me ele, e puxou um papel da carteira e o desdobrou. Era um envelope igual ao que ele rasgara ao recebê-lo de minhas mãos.
Adivinhando que era a fórmula da paciência, minha adrenalina foi a mil. Estava colado pela aba. Arranquei o papel de dentro da carta. Nele estava escrito:

"Comece pelo silêncio até esvaziar(-se) dentro e fora."

JRToffanetto

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