Uma garrafa de tequila é inocente até que seja aberta.
Fórmula formicida, daquelas que mata o eu já no primeiro trago.
Pois um zumbi transitara seu transe tequilado pela madrugada
entortando gargalo adentro até matar o
bicho. De lua cheia, largou a
garrafa no meio da rua. Rua aonde, desde o raiar do dia, veículos com
gente dentro passam por ela a caminho do trabalho.
Ouvi o estouro da garrafa se arrebentando sob o pneu
dianteiro do meu carro, furado pelo frasco do tal veneno para o espírito. Senti-me premiado, afinal, os carros
desciam a rua em filas indianas, e logo pra mim sobrou a bomba. Páh. Chiii...(vazamento
de ar do pneu).
. . .
Um conhecido meu, bamba de samba, presenciou o ocorrido do
outro lado da calçada. Meneou a cabeça a me dizer do seu idêntico desagrado pelo
ocorrido, e com um aceno de mão se afasta chamando-me para que eu o
seguisse.
Primeiro encostei o carro na sarjeta, acionei o pisca alerta,
abri o bagageiro para retirar o triângulo e sinalizar o trânsito, travei as
portas do carro e, finalmente, fui atrás do bamba
de samba saber o que ele tinha pra me mostrar.
Trinta metros adiante ele me aguardava sob a sombra de uma
árvore no recuo da calçada. A caminho, encontrei um caco da garrafa. Foi quando
identifiquei um pequenino rótulo “Tequila”.
Ao me aproximar do bamba,
ele me estendeu a mão cheia de frutinhas vermelhas. Perguntei-lhe:
- Que fruta é esta?
- Seriguela, uma delícia, doce doce. Você tira um pedacinho
da pele dela e a espreme na boca, depois é só jogar o caroço.
Ele me demonstrou como e, depois, jogou o caroço na terra
dizendo:
- Vai que vinga.
Tô esperto nisto, continuou ele depos de vascuhar o chão em redor. Se brotar uma muda eu a levo pra plantar
perto da minha casa. Gosto do suco dela no liquidificador. É você retirar a
polpa e bater com água. Fica uma delícia. Nem precisa de açúcar, é só ir
adicionando as seriguelas até ficar a gosto.
Depois ele subiu naquele pé de árvore e voltou com o bolso
cheio. Deu-as para mim e se despediu.
Ao vê-lo se afastando disse para ele:
- Viu, o pneu do meu carro deu no “Samba da Seriguela”.
“ Opa” exclamou ele. E dando a entender que dançava com
alguém no salão deu uns passos de samba da gafieira.
Mas alguém passando de carro colocou a cabeça pra fora
gritando pra ele:
- Vai trabalhar vagabundo!
Aí eu, revidei:
- Ué, desde quando zumbi fala!
Enfim, voltei para trocar o pneu do carro sentindo a
presença da Bondade que passara pelo coração daquele bamba. Quanto a mim, sabia ter ganho uma preciosidade eterna para o
coração da humanidade.
É por isso que desde já passo a dizer “Se estiveres passando por
qualquer tipo de transtorno, chupe uma seriguela você também”.
JRToffanetto
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