domingo, 25 de fevereiro de 2018

Adélia Prado _Antes do Nome (in 'Bagagem')


Antes do Nome

Adélia Prado, in 'Bagagem' 

Não me importa a palavra, esta corriqueira. 
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, 
os sítios escuros onde nasce o «de», o «aliás», 
o «o», o «porém» e o «que», esta incompreensível 
muleta que me apoia. 
Quem entender a linguagem entende Deus 
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. 
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, 
foi inventada para ser calada. 
Em momentos de graça, infrequentíssimos, 
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. 
Puro susto e terror. 

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