A primeira lição da velhice é filosófica. No seu lindo livro sobre o Taoísmo Alan Watts diz o seguinte: “Especialmente à medida em que se vai ficando velho, torna-se cada vez mais evidente que as coisas não possuem substância, pois o tempo parece passar cada vez mais rápido, de forma que nos tornamos conscientes da liquidez dos sólidos; as pessoas e as coisas ficam parecidos com reflexos e rugas efêmeras na superfície da água”. O mesmo tema é onipresente na poética da Cecília Meireles. Veja o poema Mudo-me breve: “Recobro espuma e nuvem / e areia frágil e definitiva./ Dispõem de mim o céu e a terra,/ para que minha alma insolúvel/ sozinha apenas viva./ Naquelas cores de miragem/ da água e do céu, mais me compreendo. Anjo instrutor em silêncio me leva:/ e elas fazem ver que sou e não sou, no que estou sendo”. Ela se vê refletida na água e no céu: nuvens. Haverá coisa mais sem ser que as nuvens? Ou o rio? Essa é a lição da vida: só se pode ser deixando de ser. (Rubens Alves)
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Rubem Alves, trechos do livro "As cores do crepúsculo"
Aprendi muito com a velhice. Acho que fiquei um pouco mais sábio. Sábio não é quem sabe mais que os outros. O Tao-Te-Ching faz uma distinção entre o erudito e o sábio. O erudito é aquele que ajuntou muitos saberes. O sábio é aquele que, saboreando os saberes ajuntados, se dá conta de que muitos deles não têm gosto, ou que têm um gosto que não lhe agrada. O sábio – degustador – se livra deles. O erudito soma saberes. O sábio diminui saberes. Ele escolhe o que é essencial. Os saberes essenciais são aqueles que nos ajudam a viver.
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