segunda-feira, 16 de abril de 2018

Sonhorrealismo 29. Umidade no seco a seco _JRToffanetto



Sonhorrealismo 29. Umidade no seco a seco

Então me lembrei do início da caminhada. Tudo tão seco-seco ao redor e um sentimento úmido em contínuo. Eu apenas caminhava, sentia, e sempre chegando ao mesmo ponto, o da partida, o do sentimento úmido. Dei-me conta que só ia por este ponto. Passos lentos... soltos, vazios e úmidos.

Olhando em frente, um movimento incidental me deteve. O menor passarinho já visto por mim pousara sobre uma haste de trepadeira sobre muro alto, tão alto quanto um sobrado contra o céu encoberto, lá em cima. Senti o pouso do passarinho, seu balouço na haste. Ali ele ficou, e eu também, sentindo-o. Esperava que ele cantasse, um pio que fosse para identificá-lo de outra vez, quem sabe?

Descobri-me imóvel quando meu pescoço acusou o peso da cabeça. Apoiei-a com uma das mãos qual travesseiro. Talvez o passarinho não fosse canoro, mas nem um pio! Cantasse ou não, piasse ou não, o passarinho estava em canto, no cantar daquele encanto. De repente ele voou. Não vi pra onde, mas sei, dentro do ponto. Eu voltei ao caminhar em umidade no seco a seco e ponto.
JRToffanetto

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