Sonhorrealismo
29. Umidade no seco a seco
Então me lembrei
do início da caminhada. Tudo tão seco-seco ao redor e um sentimento úmido em contínuo.
Eu apenas caminhava, sentia, e sempre chegando ao mesmo ponto, o da partida, o do
sentimento úmido. Dei-me conta que só ia por este ponto. Passos
lentos... soltos, vazios e úmidos.
Olhando em
frente, um movimento incidental me deteve. O menor passarinho já visto por mim
pousara sobre uma haste de trepadeira sobre muro alto, tão alto quanto um sobrado
contra o céu encoberto, lá em cima. Senti o pouso do passarinho, seu balouço na
haste. Ali ele ficou, e eu também, sentindo-o. Esperava que ele cantasse, um
pio que fosse para identificá-lo de outra vez, quem sabe?
Descobri-me
imóvel quando meu pescoço acusou o peso da cabeça. Apoiei-a com uma das mãos
qual travesseiro. Talvez o passarinho não fosse canoro, mas nem um pio!
Cantasse ou não, piasse ou não, o passarinho estava em canto, no cantar daquele
encanto. De repente ele voou. Não vi pra onde, mas sei, dentro do ponto. Eu voltei
ao caminhar em umidade no seco a seco e ponto.
JRToffanetto
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