“Os poetas são os pássaros”
João Dias Carrasqueira (um mestre da flauta)
em sua composição ‘Os Pássaros e a Bruxa Chorona’
Na terça-feira (18.01.11) me levantei junto à barra clara do dia, na primeira luz sobre o que estava sob o manto escuro da noite. Desci do terraço depois de recompor um “lá-lá-lá”que me veio à mente assim que saltara da cama, uma intervenção coralística em uma velha canção dos anos setenta.
Fiz um café enquanto ajustava minha vocalização daquele trecho musical. Havia dificuldade nisto porque um outro coro fazia suporte ao coral principal, enfim, eu concebia uma espécie de recriação. Ao me sentar na soleira da porta da cozinha com a xícara na mão, vi-me assobiando aquele divinal "lá-lá-lá" quando, no meio da execução, ocorreu um incidente musical: um joão-de-barro soltou três sons canoros.
Escrevendo sobre isto na boca da noite do dia seguinte (quarta-feira), ao digitar a palavra "passarinho" ouço novamente o mesmo trinar canoro. Até ouvi-los (o da manhã anterior e o desta tarde), não tinha observado nenhum outro pássaro a gorgear.
Eu sempre senti estes cantares como beijos dados na manhãzinha, bem na face do dia, na benção vinda à luz. Agora eu sabia: o canto dos pássaros são beijos da manhã passado adiante. Oh, aquele passarinho me concedera a oportunidade de receber um beijo destes, reverente à luz da manhã. Logo viria o arrebol e, depois, raios dourados de sol a cintilar cores da terra. O dia é vida terrena, bela como ela só. A noite é vida celeste, eternamente bela.
Naquela manhã, a sincronia do meu assobio com o alvissareiro canto, fez-me sentir em fusão com a natureza, uma energia de integração. A consciência daquele instante mágico, poético, divinal, desconectou-me daquele estado fenomênico para me gerar um sentimento de profunda gratidão e que se estendeu até o sol a dois dedos acima da linha do horizonte, enfim, um sentimento que eu podia carregar pelo dia todo e, como o Joãozinho Despertador, passá-lo adiante, e até os confins do cosmo.
Em tempo:
Assobiei o referido trecho musical para o meu filho Yuri depois de lhe perguntar em que disco do "Yes" ela estava, pois nada mais me lembrava dela. Ah como é bom ter um estudante de música em casa, e especialmente com a memória de um canceriano. De pronto ele me disse o nome no LP e a faixa. É a "South Side Of the Sky" do disco "Fragile" do grupo "Yes". Pois ele buscou na Internet a partitura do tal "lá-lá-lá", e pede para avisar que são notas ao piano de apenas uma parte dela.
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