Posologia do “Azulzinho do céu”:
Indicado largar os olhos no céu e se esquecer - é como seu veículo terrestre pode entrar na corrente celeste. Medicamento que pode ser tomado em qualquer hora e lugar, mesmo que esteja dentro de um elevador. O sintoma após o uso será de benigna vibração que pode estender-se do centro de sua caixa toráxica para o resto do corpo e contagiar o ambiente externo. Reativa-se com a simples lembrança do estado. Tome-o à vontade. Para cegos e daltônicos, deve-se meditar em harmonia cósmica, pois os efeitos são os mesmos. Após o uso, não se constranja ao se ver assobiando em público ou cantarolando uma velha canção. Contra indicado dar entrada para quem não tenha nenhuma canção na ponta da língua, e se este perguntar o que você está vendo no céu, cuidado porque tal indivíduo pode estar pronto para lhe injetar um antidoto contra a poesia. Se assim o sentir, responda que você viu um balão.
Jairo Ramos Toffanetto
domingo, 27 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
Cora Coralina - "Saber Viver"
“Saber Viver”
Não sei se a vida é curta
Ou longa demais para nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem seja longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar
(Cora Coralina)
Biografia, frases e pensamentos de Cora Coralina:
http://pensador.uol.com.br/autor/Cora_Coralina/biografia/
Jairo Ramos Toffanetto
sexta-feira, 18 de março de 2011
Da parceria com o Dr. Ramos
Dizendo-lhe não gostar de ver meu tempo se desfazendo em areia, o Dr. Ramos colocou a ampulheta na gaveta e perguntou se eu estava ganhando algum dinheiro com o que eu escrevia.
- Ainda não, respondi-lhe eu.
- Sabe Jairo, tenho muitos pacientes com dificuldade extrema em transcender, e tudo que eles precisam é aprender a tirar os pés do chão, um pouco que fosse e já teriam um ganho enorme em termos de qualidade de vida.
Empurrando-me o seu bloco de receituário, pediu-me que eu lhe compusesse algumas prescrições colocando o paciente diante do nascer do sol, sob a sombra de uma árvore, e assim por diante.
- Sabe, Jairo, daqueles venenos poderosos que você me reportou em sua primeira consulta em 07 de março. Na medida em que suas receitas forem chegando, eu vou te pagando imediatamente.
- Cobro R$ 150,00 por prescrição, o preço mínimo de uma consulta.
- Perfeito, exclamou ele, mas o texto não pode exceder o tamanho da folha do bloco, e sem usar as costas da folha.
- Doutor, vou prá sala de espera e já te deixo meia dúzia de receitas.
- Pago na hora, interveio ele. Você escreve e eu assino embaixo. As demais, você me manda por e-mail e efetuo depósito em sua conta bancária.
- Combinado. Anote aí o número de minha agência bancária e conta corrente: Ag. 2014 – Cc. 01005991-6 – Bco. Santander.
Jairo Ramos Toffanetto
quinta-feira, 17 de março de 2011
Efeitos dos antídotos à Poesia - s4
Antídotos do Dr. Ramos:
Ligar-se na política nacional desde Brasília e ouvir a radiofusão da “Hora do Brasil”. Dar suporte ao antídoto acessando todo tipo de noticiário, inclusive o policial. Utilizar as horas ociosas para ficar junto a um cruzamento de trânsito pesado da cidade.
- Tomei o antídoto conforme sua prescrição, doutor. Como já lhe disse, seus antídotos não funcionam, e porque? Veja o resultado:
Op. 19
Em céu aberto e sol:
luta, chicote, flagelo.
Relampeja breu
©
- Tem mais algum?
- Olha doutor, foram muitos os haicais compostos. Acho melhor comprar o meu livro.
- Mas... já está em livro!
- No prelo, doutor, no prelo, mas já com registro atualizado na Biblioteca Nacional por uma questão de direitos autorais.
- No prelo, doutor, no prelo, mas já com registro atualizado na Biblioteca Nacional por uma questão de direitos autorais.
- E sobre o cruzamento de trânsito, o antídoto lhe provocou alguma inspiração.
- Ah, este eu trouxe escrito para você ver, e lhe empurrei um papelzinho escrito à lápis.
Op. 22
“No Semáforo”
...vrem vrem vrem vrem vrem...
- Vem verde! ...vrem... vem, vem verde!
vrem VÃO VÃO VÃO vruumm...
©
Daí prá frente, o Dr. Ramos me oferece uma proposta de trabalho sobre a qual eu estarei, na próxima postagem, compartilhando-a com os amigos .
Jairo Ramos Toffanetto
quarta-feira, 16 de março de 2011
Retorno à consulta - s3
O Dr. Ramos me pergunta dos resultados dos antídotos indicados por ele. Respondo-lhe que eles não funcionam, ou pelo menos se considerados como antídotos para da Poesia, e que eu pude concluir que se a Poesia não é doença, também não é a cura, e cura, pois ela é muito mais que isto. Quanto à arte poética e demais artes, nunca, jamais funcionam como terapêutica para o artista ou quem quer que seja.
- Tudo bem, mas diga-me se você pelo menos tentou usar os antídotos?
- Ah! doutor, se houvesse antídoto para a Poesia seria o fim do universo conhecido. A humanidade sempre tentou acabar com a Poesia e, para isto, inventou a religião.
- E o que é a Filosofia para você?
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- A Filosofia e contígua à Poesia. Aprendi com um médico, amigo meu, que todos os problemas se resolvem com a Filosofia. Nela está a mecânica do Universo conhecido e não conhecido.
- O que vem primeiro, a Poesia ou a Filosofia?
- Eu que estou te consultando ou você está só me sondando, doutor? Enfim, respondo que tudo é uma coisa só, tão dentro quanto fora.
- E quanto aos os antídotos que te recomendei?
- Uma brincadeira, né doutor. E uma brincadeira da qual colhi bons resultados, pelo menos para mim, e espero que também para aqueles que entrem em contato com o meu fazer poético. A propósito, se tiver mais alguns destes para me recomendar... porque... gosto muito de brincar.
Jairo Ramos Toffanetto
- Tudo bem, mas diga-me se você pelo menos tentou usar os antídotos?
- Ah! doutor, se houvesse antídoto para a Poesia seria o fim do universo conhecido. A humanidade sempre tentou acabar com a Poesia e, para isto, inventou a religião.
- E o que é a Filosofia para você?
- A Filosofia e contígua à Poesia. Aprendi com um médico, amigo meu, que todos os problemas se resolvem com a Filosofia. Nela está a mecânica do Universo conhecido e não conhecido.
- O que vem primeiro, a Poesia ou a Filosofia?
- Eu que estou te consultando ou você está só me sondando, doutor? Enfim, respondo que tudo é uma coisa só, tão dentro quanto fora.
- E quanto aos os antídotos que te recomendei?
- Uma brincadeira, né doutor. E uma brincadeira da qual colhi bons resultados, pelo menos para mim, e espero que também para aqueles que entrem em contato com o meu fazer poético. A propósito, se tiver mais alguns destes para me recomendar... porque... gosto muito de brincar.
Jairo Ramos Toffanetto
sábado, 12 de março de 2011
Sombra de árvore e água fresca - s2 (série)
Seguindo as recomendações do Dr. Ramos, levei uma garrafinha de água para, debaixo de uma árvore do “Bolão” – Parque Comendador Nicolino de Lucca (de frente à quadra de tênis) abrir o seu receituário de antídotos. Fiquei esperando o momento certo, afinal, a minha hipocondria pela Poesia como a entendo, não passava de ironia, um modo de rir de mim mesmo. Abortá-la seria uma violência sem igual. Deixar de senti-la significaria, p.ex., ignorar a Poesia que são minha mulher e filhos. “Ah, este doutor só pode estar querendo me pregar uma peça”, pensava eu.
Ao me voltar para o papel, vi na ponta do lápis o bico do “João de Barro” e o haicai ficou assim composto:
Op. 09
Cantar sempre quiz
Cantar sempre quiz
do bico do passarinho
em ponta de lápis
©
Só tomei conhecimento dos antídotos do Dr. Ramos depois de escrito o poema acima. Enfim, esperaria sua secretária me marcar o dia do retorno.
Obs: Esta postagem é continuação da postagem de 07 de março, e que se seguirá numa série.
Obs: Esta postagem é continuação da postagem de 07 de março, e que se seguirá numa série.
Jairo Ramos Toffanetto
segunda-feira, 7 de março de 2011
Eu e o Dr. Ramos - s1 (série)
Fui a um especialista pedir um remédio que curasse a minha hipocondria. O nome dele é Dr. Ramos. Qualquer dia eu o apresentarei a vocês. O fato é que mal entrei no seu consultório e ele virou uma ampulheta para marcar o tempo disponível para a consulta.
Suas primeiras palavras foram:
- Meu filho, abra o teu coração.
Havia bondade em seus olhos, no tom de sua voz, em suas palavras... Sentindo isto, fui direto ao propósito da minha consulta:
![]() |
Tempestade elétrica |
- Doutor, sou viciado em canto de passarinho, aurora, nascer do sol, azulzinho do céu... há meio século que tomo destes remédios, um depois do outro, e sempre vou tomando outro e mais outro. Sempre que posso, tomo altas doses de chuva bem como me deixo tragar pela ventania que a prenuncia. Dentro das ocupações do dia, ainda bebo do veneno das nuvens do céu. À noite abro meus olhos pro céu e os deixo nas estrelas, depois vou escrever ou dormir. Se for dormir, é como meu quarto não tivesse telhado, doutor, pois continuo vendo o céu estrelado. Isto é vício ou hipocondria? Eu sou um doente, doutor?
Depois de me olhar longamente como a perscrutar minha alma, disse-me:
- Vou te receitar alguns antídotos. Se um falhar, tente o seguinte, ok?
Enquanto ele os prescrevia, perguntou-me se eu trabalhava.
Achei estranha sua pergunta, mas respondi-lhe:
- Desde os meus quinze pra dezesseis anos de idade, doutor.
- Ótimo, exclamou ele, continuou a escrever em silêncio.
Ao me entregar a receita, recomendou para que eu a lesse tomando água fresca sob a sombra de uma árvore.
Eu já estava saindo com sua receita no bolso quando ele me avisou que a secretária me ligaria marcando retorno.
Antes de fechar a porta, olhei para a ampulheta e vi que o meu tempo ainda corria.
- Jairo, se você tiver mais alguma coisa para dizer, o tempo ainda corre a seu favor.
- Não não, confio no seu trabalho, doutor. Até a próxima.
Jairo Ramos Toffanetto
(Na próxima postagem, veja a receita do Dr. Ramos)
sábado, 5 de março de 2011
Do "comentário" do "Madu" à postagem de 20.02.2011
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Asclépio, Deus da Medicina, com o caduceu - o bastão e a serpente |
Pois, naquele tempo - acrescento eu - nenhum médico que nas madrugadas geladas pulava da cama e ia à casa do paciente, seja a cavalo, de charrete e, depois, de automóvel, fazia-o sem ter integrado a si a fidelidade incondicional juramentada à medicina e, na prática, o exercício do seu extremo amor à sua profissão e à vida de seus semelhantes e, sobretudo, por respeito a algo maior que Shakspeare dizia haver entre o céu e a terra.
Das várias imagens em que “o médico” suscita em nosso espírito, vêmo-lo, em primeiro plano, tanto como um diligente guardião da vida quanto a um portador da esperança. Era neste sentido que os “antigos” - ainda vistos em minha infância -, referiam-se a esta profissão como sacerdócio, pois o ponto de admiração a ele estava no desempenho de uma missão sagrada.
A propósito da "missão sagrada", e traçando um paralelo entre médico e sacerdote, o ponto incomum entre eles: está na exemplaridade do saber ouvir a alma humana: confessionário para um, auscultatório para o outro. Um prescrevia penitências para purgar o coração, o outro, ungüentos para puxar o mal de dentro do corpo físico. Se o sacerdote era um médico da alma, o médico era um sacerdote do espírito, e vice-versa. Ambos buscavam a paz como um sinônimo da harmonia.
“Madu” também escreveu “Caro Jairo, muitas vezes a cura dos "doentes" não está obrigatoriamente em curar a doença, mas sim dar um alento para a saúde resplandecer, para vida, dar um pouquinho de calor humano, afetividade e atenção àqueles que padecem de alguma doença infecciosa muitas vezes estigmatizante”.
Estigmatizante... ora se aí não está a ação consciente da qualidade dos veneráveis, dos nobres, e tão facilmente identificável no honroso sacerdócio da medicina. Assim entendendo, é notório que os remédios indicados vinham amalgamados com o “alento para a saúde resplandecer para a vida”.
Ah! meu caro Madu, como é bom saber que este espírito tão antigo quanto eterno resiste à velocidade e pressão dos tempos hoje, um vírus que grassa como uma pandemia. Soçobrarão os doutos em princípios etermos, princípios que nos fazem ver o homem muito superior ao que aparenta no comum das relações cotidianas.
Jairo Ramos To0ffanetto
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