Fui a um especialista pedir um remédio que curasse a minha hipocondria. O nome dele é Dr. Ramos. Qualquer dia eu o apresentarei a vocês. O fato é que mal entrei no seu consultório e ele virou uma ampulheta para marcar o tempo disponível para a consulta.
Suas primeiras palavras foram:
- Meu filho, abra o teu coração.
Havia bondade em seus olhos, no tom de sua voz, em suas palavras... Sentindo isto, fui direto ao propósito da minha consulta:
Tempestade elétrica |
- Doutor, sou viciado em canto de passarinho, aurora, nascer do sol, azulzinho do céu... há meio século que tomo destes remédios, um depois do outro, e sempre vou tomando outro e mais outro. Sempre que posso, tomo altas doses de chuva bem como me deixo tragar pela ventania que a prenuncia. Dentro das ocupações do dia, ainda bebo do veneno das nuvens do céu. À noite abro meus olhos pro céu e os deixo nas estrelas, depois vou escrever ou dormir. Se for dormir, é como meu quarto não tivesse telhado, doutor, pois continuo vendo o céu estrelado. Isto é vício ou hipocondria? Eu sou um doente, doutor?
Depois de me olhar longamente como a perscrutar minha alma, disse-me:
- Vou te receitar alguns antídotos. Se um falhar, tente o seguinte, ok?
Enquanto ele os prescrevia, perguntou-me se eu trabalhava.
Achei estranha sua pergunta, mas respondi-lhe:
- Desde os meus quinze pra dezesseis anos de idade, doutor.
- Ótimo, exclamou ele, continuou a escrever em silêncio.
Ao me entregar a receita, recomendou para que eu a lesse tomando água fresca sob a sombra de uma árvore.
Eu já estava saindo com sua receita no bolso quando ele me avisou que a secretária me ligaria marcando retorno.
Antes de fechar a porta, olhei para a ampulheta e vi que o meu tempo ainda corria.
- Jairo, se você tiver mais alguma coisa para dizer, o tempo ainda corre a seu favor.
- Não não, confio no seu trabalho, doutor. Até a próxima.
Jairo Ramos Toffanetto
(Na próxima postagem, veja a receita do Dr. Ramos)
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