Eu, menino de quatro ou cinco anos de idade, ao entrar num consultório de mãos dadas com meu pai, o doutor foi logo me perguntando:
- O que você vai ser quando crescer?
E facilitando minha resposta:
- Médico ou escritor?
Então ele se voltou para meu pai perguntando se o meu nome fora dado em homenagem ao Dr. Jairo Ramos, seu professor faculdade, famoso médico e também médico escritor. O Sr. Orlando lhe respondeu que Ramos viera do sobrenome da minha mãe, e que ele não era o primeiro médico que questionava a mesma coisa.
Então ele pegou um clipes da mesa e pediu para que eu olhasse. Levantou-se e, dirigindo-se a mim, pôs as duas mãos às suas costas dizendo que ele o escondera numa das mãos. Depois ele cruzou os punhos fechados à minha frente e me disse:
- Se acertar em que mão o clipes está você será médico, mas será escritor se bater na mão vazia.
Bati numa das mãos e ele mostrou o clipes na outra. Exclamou ele, alegremente:
- Temos um escritor aqui, e olhando para meu pai lhe deu parabéns.
Agachou-se e disse olhando diretamente nos meus olhos:
- Seja lá o que você fizer na vida, faça algo brilhante, afinal você nasceu com um nome muito forte.
Deu-me os clipes de presente e iniciou a consulta abrindo um envelope com o resultado de alguns exames de rotina. Esticou minha pálpebra inferior, apalpou todo meu abdômen. Bateu no meu joelho com um martelinho, ouviu meu pulmão, sentiu meu pulso e em outros pontos do meu antebraço. Enfim, eu não tinha nada. Despedimo-nos e já atravessando a porta, ele me chamou:
- Jairo Ramos, você brinca do quê? Ele queria me ouvir falar.
- De dirigir ônibus.
- Um carrinho?
- Nãão, um ônibus de verdade!
- Fale-me deste ônibus.
- Preguei uma tampa de leite ninho num cabo de vassoura e o enterrei. Ponho uma cadeira na frente e dirijo, troco marchas, buzino... Nas cadeiras de trás vão minha irmã com as amiguinhas. Peço para elas se segurarem nas curvas para não cai pra fora do ônibus.
Rindo ele exclamou:
- Com uma imaginação desta só poderá ser escritor, talvez um poeta.
O tempo passou e um médico ainda jovem me perguntou do porque do nome Jairo Ramos.
Recentemente, andando pela Rua Pedro de Toledo me deparei com um prédio
chamado "Ed. Prof. Jairo Ramos". Perguntei à dona de uma
banca de jornal:
- É o Hospital São Paulo. O que está à sua frente e os prédios
abaixo, aliás, todo o quarteirão. Hospital e Faculdade de Medicina.Enfim, tenho razões para agradecer - e muito - ao Hospital do Rim e da Hipertensão e toda sua equipe multidisciplinar que esteve cuidando da minha mulher, Maria Regina e, em especial ao Dr. Medina (Prof. Dr. José Osmar Medina de A. Pestana), também diretor gestor do Hospital São Paulo. Esta postagem é o jeito que encontrei de prestar homenagem à toda classe médica do nosso país, pois não tenho dúvidas de que o Dr. Medina pode muito bem representar a todos de norte a sul do país.
Dr. Jairo Ramos (1900-1972) Médico e escritor médico |
"A vida do médico é integralmente social. Sua função é valorizar o homem e protegê-lo contra os agravos que afetam o soma e o psíquico. Nada afeta mais o psíquico do homem que as incompreensões da sociedade. Nada afeta mais o soma que os desequilíbrios sociais condicionados pela falta de assistência e de proteção ao homem comum". http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2006000100001
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