Brasil x Itália pela televisão, muitos gols (6) e nenhum rojão hoje à tarde. Porque será? Emoções não faltaram. Jogo disputado. Futebol bonito e... silêncio. Tentei buscar razões, afinal, o futebol sempre foi euforia nacional, e nada! Gostaria de saber se o mesmo ocorreu em outras cidades. O Brasil mudou? O povo já não é o mesmo? Entendo que ele deverá mudar pra melhor se realmente quer que o Brasil mude para melhor. Como disseram centenas de milhares de pessoas em manifestações pelas ruas de quase todo país: O gigante acordou?
Aqui em Jundiaí, cidade que conta com a grande e festeira colônia italiana, talvez a maior do estado de São Paulo e... nada de foguetório nem nos gols da sua Squadra Azurra! Pra se ter uma ideia deste sentimento italiano, meu pai, neto de italiano padovês, brincava comigo - quando eu menino -, dizendo que eu era tão italiano quanto ele. Quando as duas seleções se enfrentavam eu o cutucava com a pergunta “Pra quem o senhor vai torcer?” Respondia ele "que vença a seleção que jogar o melhor futebol". Ora, estávamos na era Pelé, e a nossa seleção era aplaudida como a melhor de todos os tempos.
Bem, eu ficava assistindo o jogo olhando para ele, decifrando suas expressões faciais. Com a seleção brasileira ele sorria, aliás, ele sempre torcia discretamente, seja pela seleção ou pelo seu Corinthians. Mas quando a seleção italiana perdia um gol ele exclamava “Oh puxa-vida”. Isto me confundia um pouco, mas eu gostava disto. Meu pai era uma grande atração para mim. Tinha algo de matuto, algo do interior do estado a noroeste, algo emigrante rural, algo apaixonado pela capital, a cidade de São Paulo aonde morou, trabalhou, casou-se e teve seus filhos. Enfim, um cosmopolita como os de antigamente.
1x0 - 1x1 - 2x1 - 3x1 - 3x2 - 4x2 para o Brasil, significando uma eletrizante partida de futebol entre tradicionais e históricas seleções que algumas vezes decidiram a Copa do Mundo. Um taco a taco sempre presente entre seleções campeãs e... nada de rojão ou caramurú! Nenhum "chibum".
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Vila Arens (Google Imagens) |
Uns quarenta minutos após o jogo deixei a Regina no supermercado e fui ao caixa eletrônico de um banco. Passando em frente ao portão de entrada para o salão paroquial da Igreja de Vila Arens, vi um homem de calça social, paletó e gravata ocupando a entrada, fechando-a com o corpo, e que me mediu dos pés à cabeça.
Há mais de quarenta anos na Vila Progresso, um bairro estendido da Vila Arens, dá-me a liberdade de transitar por aqui de bicicleta, camiseta, bermuda e chinelo de dedo se preciso for. Mas tinha saído com minha mulher e a deixado num supermercado aonde estacionei o carro. Fui com a roupa do corpo: calça azul escuro, de elástico na cintura com uma larga faixa branca na lateral da perna e camiseta da seleção sob uma jaqueta de frio. Algo assim... à vontade, livre, com as cores da seleção brasileira, poxa!
Como sempre me sinto de bem com a vida e não sobrelevando circunstâncias ou contingências no meu modo de ser, cumprimentei o indivíduo, um segurança em seu trabalho. Mas “o cara” me respondeu com silêncio opressor, olhos discriminatórios, pregados em mim. Ôrra, já ando meio careca e meus cabelos brancos estão tomando conta do telhado. Cara de arruaceiro? Sou uma ameaça à ordem dos ilustres provincianos aqui do lugarejo? Não achei que lhe deveria questionar isto, pois aprendi que com brucutu ou ignorante não se dialoga, ignora-se.
Enfim, se as mudanças pretendidas pela moçada em passeata nas ruas está dando também nisto... mio Dio!... muitas águas haverão de rolar. Muitos ainda estão no jardim da infância civilizacional para se incorporar ao gigante.
Jairo Ramos Toffanetto