sexta-feira, 21 de junho de 2013

Marulhos de Guarulhos na manhã dos barulhos. Hoje, às 07:10 h


Na esquina da Av.C.F.Endres com a Av.Guarulhos ocorreu-me estar de frente para o mar, mas não em relação ao mesmo sol que, por aqui, insiste em não aparecer nesta manhãzinha de sexta-feira, ou ao céu aberto, livre para as “voanças” das gaivotas, mas ao clima pesado, rente ao chão, denso de carros passando apressados ocupando cada centímetro de espaço.

Chegam abruptos como uma onda a quebrar na praia e, ao contrário de um descansado marulho, avançam pela avenida com nervosas arrebentações sonoras. As motocicletas mergulham no meio dos veículos como um golfinho no meio de cardume de sardinhas.

Não ouço o romântico apito de navio, ma uma apreensiva sirene de ambulância forçando caminho no meio de cações. Ouço troca de xingos, algo feroz, vomitado. Não sabia que tubarões gritavam.

Nas calçadas, ninguém está a caminhar pela manhãzinha. Por um pesadelo se anda quase sem pernas, correndo. Mochilinha nas costas e olhares fixos num ponto esquisito.

Passo por uma lanchonete. Não sinto cheiro de pão na chapa. O do café se mistura como o da pinga no hálito do balcão. Cito em bom tom o nome do maço de cigarros que fumo, mas estão todos de gargarejo na frente da televisão. O balconista me aborda se mostrando apreensivo com a notícia que acabara de ouvir, e arrota-a para mim.

Paro de escrever. Dou-me conta que não ouvi um único passarinho cantando. Penso “se esta manhã não é boa para os passarinhos, também não o é pra ninguém.” Os carros, caminhões e ônibus passam roncando. Os motoristas passam acelerando nervéticos, gritando com suas buzinas. As rodas dos veículos passam esperneando pela curva.

Hoje, a partir das 14:00 h, o povo daqui começa se juntar nas ruas para manifestações marcada para as 16:00 h no centro da cidade de Guarulhos. Não me surpreenderia se reivindicassem a volta do canto dos passarinhos, os bons ares, a vida com “V” maiúsculo. Creio que isto tudo está engasgado, enroscado no duto dos ouvidos, da garganta, e travando e evacuação. O povo está cheio, cansado da vida agressiva, dos aproveitadores e bandidos de plantão em toda esfera da sociedade.

Ah... os arruaceiros... os infiltradores... os mau elementos... o pomo da discórdia... a maioria das cidades brasileiras os merecem, juro que os merecem. Já passou da hora das cidades serem repensadas. Vivemos um tempo pós-desenvolvimento a todo custo. Custa mais que vinte centavos. Qual o custo de vidas massacradas? É o fim da revolução industrial. O tecido social se esgarçou e não cabem remendos novos.

Jairo Ramos Toffanetto

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