Minha adolescência já foi longe, mas foi nela que eu aprendi
a não escrever sob forte emoção, mas quando estas são delicadas, tão delicadas
quanto a pluma, ao passarinho, sinto que é de dever.
Quinze minutos à pé me separam da Estação Ferroviária de
Jundiaí. Andava pensando na Regina que está sob cuidados médicos em São Paulo e,
atendendo ao pedido dela, levava-lhe um livro, agulhas de tricô e novelos de lã.
Eis que me surpreendo com muitas andorinhas sobrevoando
o largo canteiro central da Av. dos
Ferroviários. Andei no meio delas imaginando que a esfuziante energia - pura
alegria aos olhos – também estivesse “já-agora” com a mulher da minha vida, uma
páassara. Tão leve ela é mesmo
em severos cuidados para com a saúde.
A nuvem de passarinhos vão para o lado esquerdo da avenida e
eu para a calçada oposta, lado da Estação. Ao voltar o olhar para onde imaginei
que elas partiram, verifico que elas sobrevoam um campo gramado entre os muros
limítrofes da Sifco do Brasil, uma fábrica de metalurgia e local do meu
primeiro emprego.
No que as vejo, avultam flores lilases rente à grama como se
fossem uma onda em precipitação para a calçada. De onde eu estava dei um zoom na câmera fotográfica e disparei o capturador.
Segui me aproximando e recolhendo imagens.
Olhei para as andorinhas que desapareciam no
azul do céu à oeste, e então, mentalmente disse para elas:
Andorinhas-andorinhas,
São Paulo fica
pro lado sul,
oh queridas minhas.
Ao retomar a
calçada do outro lado da avenida, vi o trem se aproximando da estação. Não
apertei o passo por que já sei que quando você entra no âmbito de um incidente
após o outro, tudo o que se tem a fazer é deixar-se ir e até que estes cessem
por si mesmos, e de mais a mais eu estava a sentir a linguagem das flores, a
imagem da perfeição qual onda, um remanso de Paz vindo pra avenida.
Oh flores
azuis lilases.
Eu usava óculos escuros e boné de pala frontal para proteger olhos e rosto do sol à pino. Ao olhar
adiante vejo que novamente estou no meio de um bando de andorinhas. Diziam-me
que a energia já estava com a Regina.
Hoje, pela manhã, do meu local de trabalho vou pra frente da
avenida. Mas o que é que vejo ao largo?
Óh andorinhas-andorinhas...
São todas fadas madrinhas
JRToffanetto
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