quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Para além do telhado _fotoJRT

Olhar o rosto molhar...
Sentir é precisão.
Para ver, abrir os olhos é preciso.
Não é porque você não está vendo que nada está, ou
não é porque você está vendo que de fato vê.
O que você vê lá fora passa-se dentro.
Nada passa fora de você.
Quando se aprende separar aos coisas o ver desaprende olhar.
Ver-se olhando é um estado de atenta desatenção.
Tudo fica mais claro na sombra do denso dia de sol.
Ver de bate-pronto dá canseira porque o olhar se fecha.
Olhar o rosto se molhando com a garôa fina é sentir.
É ter a face ao alcance do céu.
A garoa que passa fica em você.
Ainda carrego tantos olhares...
O cheiro que se levanta da terra quando vem a chuva.
Ainda carrego o último relâmpago.
O que carrego não é mais pesado que a garôa fina.
Meus olhos são do olhar úmido.
Só se vê o que sente.
Prestar-se ao olhar do sentir.
Nele, nada e tudo cabe.
Ocupar-se da leveza.
Olho-me com sono. Para além do telhado que me cobre
as estrelas não se apagam.
Olhos se fecham, não o olhar.
(JRToffanetto)

R. República de Israel, Vila Clementino. SP

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