sábado, 17 de julho de 2010

Cheirinho de Feijão

                          Desenho de Yung Gautama Toffanetto aos nove anos de idade  

       Porque o céu está nebuloso... vento indiscreto, frio e úmido, juntando folhas secas junto a uma pedra fria... ruas vazias, sombras ausentes, tudo cinzento, cores sem brilho... cães ladrando abandono e loucura... carros passando em cortejo fúnebre...
       Posso compreender os que dizem ser um dia triste e feio só para puxar assunto entre desconhecidos, mas perguntar o que acho só para confirmar suas impressões... ah... o dia e sua poética integravam-se tão divinamente a mim no sentir de um cheiro de feijão que ficava fora de questão emitir qualquer juízo de gosto.
       - Vocês estão sentindo um cheirinho de feijão? Perguntei-lhes.
       - Tudo cheira morto no dia de hoje. Disse um deles em tom terminante.
       Vendo um menino correndo pelo meio da rua qual feijãozinho puxando uma capucheta em piruetas às suas costas, disse ao que pusera uma trava à minha sinalização para a poesia:
       - É mesmo! Diga isto prô menino da capucheta.
       Um outro, possivelmente livrando a cara daquele que cheirava a morto, ajuntou dizendo:
       - Hoje tá bão mesmo pra tomá umas pinga, isso sim!
       Esquecendo a rodinha dos falazes, fique a admirar o menino que, certamente atraído pelo cheiro de feijão, parara à frente do portão aberto da sua casa onde enrolava numa lata a linha de sua capucheta.

Jairo Ramos Toffanetto


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