sábado, 10 de dezembro de 2011

Pietà - É tempo de dizer

Foi a partir de um intenso desejo de expressão do belo que Michelangelo criou um estado no qual, diante de um bloco de mármore, pôde ver (sentir) a Pietá. Fiel ao sentir em ação do inominável integrado a si, esculpiu-a para além da terrena dor ainda humana. 

A Pietà na basílica de São Pedro
O que está no regaço de Maria não é o Cristo, o homem, daí o seu tamanho menor porque imensurável aos nossos olhos, e não do dizer, como querem alguns, de que ele é o seu filho, ou ela, a mãe de Deus. Ela, maior que a passageira humana, integrada em Cristo.  

Não há dor nas expressões faciais de ambos. Ela e Cristo em beleza, em estado de compreenção a nós, de um respeito ainda a ser alcançado, um dia, quem sabe, para além do humano. Está para além do plano do olhar, do sentir comum. Está, para além da estreita forma tridimensional, a Razão Maior, a Presença Infinita.  

A Pietà nos proporciona o sentir com os olhos do Criador e, assim, juntarmo-nos aos três, ainda que num vislumbre. Eis o espírito da criação divina que passou por Michelangelo, e que ele pôde, através do seu fazer artístico, dar a forma que pudéssemos alcançar para além dos dogmas. 


Enfim, Michelangelo retrata o belo visto a partir da origem de tudo, o Todo. Para vê-lo (sentí-lo) é preciso tangenciar o olhar comum. É preciso abrir o olho do sentir, a Divina Piedade.

Jairo Ramos Toffanetto

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