Google Imagens |
Achei um único assento. Era tudo que eu precisava para finalizar a leitura do livro “A arte da
Vida” do pensador Zygmunt Bauman. Para mim, um livro mais interessante que
importante. Para dar divertimento, lia-o como uma ficção futurista em tempo presente.
Um dia destes eu comento Bauman.
Ao sentar dei-me conta de
muita gente em redor falando sobre a profecia Maia do fim do mundo com data
marcada: vinte um de dezembro. Diziam:
- Desta vez não escapa. É a
última sexta-feira do ano, disse uma velha senhora.
- Então pode esquecer o
Natal, afirmou uma outra.
- Que nada, vamos passar o
Natal no céu. Respondeu uma que estava mais ao fundo.
- Ou no inferno, assados e
dentro de uma bandeja na mesa do“coisa ruim”. Disse um homem em tom ríspido.
Um velhinho de boina
corrigiu o que ouvira:
- O inferno é aonde estamos
agora, quente pra burro, sem ar condicionado ou ventilador e com um montão de
gente em fila. Se o fim do mundo fosse agora, pelo menos morreríamos sentados.
A mulher que estava ao meu
lado interveio:
- O inferno deste lugar
quente e abafado acaba em mais ou menos duas horas, isto é, se tivermos muita
sorte.
Uma mulher de trinta anos
exclamou inconformada com o que estava ouvindo:
- Ai... o fim do mundo...
gente, eu tenho uma filhinha de três anos. Não acredito no fim de coisa alguma,
e nem quero saber desta conversa fiada, tenho mais no que pensar.
Um homem sentado à sua
frente voltou-se para trás para dar uma espiadela em quem acabara de falar, e a
mulher desejosa em abafar o assunto, perguntou a ele:
- E o senhor... acredita no
fim do mundo pra semana que vem?
No fundo ela estava com medo danado e queria ter alguém do lado dela para o escorar, mas
batera em porta errada. O cara não tinha nenhuma vocação para bengala.
Respondeu-lhe assim:
- Moça, não é questão de acreditar ou não.
Será o fim do mundo, afirmou ele. Garanto-te que as crianças se salvarão,
portanto, cuide-se para que sua filhinha não fique órfã.
Uma estudante com livros e uma brochura no
colo saiu em defesa da mulher e ao homem do fim do mundose dirigiu com desafiadora ironia:
- Jura? Então você deve saber como será, não é
mesmo!
Ele respondeu com impassividade:
- Você já viu um tipo de mata-moscas antigo
que atraía o inseto com uma luz roxa? Pois então, quando elas se aproximavam
daquela luz levavam uma espécie de “bizzzt”
e caiam mortas ao chão. Pois o fim do mundo será algo parecido com isto. Uma luz
roxa entrará no planeta e os que não estiverem preparados para ela cairão como
moscas ao chão.
- Ai minha Nossa Senhora, exclamou a "mulher da
filhinha".
Ninguém mais abriu a boca. Voltei-me pro meu
livro, mas nem deu tempo de terminar o parágrafo. porque um homem lá do fundo instava alguém em voz alta:
- O “fio”, cutuca ele. Cutuca ele,
"fio".
O homem do fim do mundo foi cutucado. Ao olhar
para trás viu um brutamonte de pé que o mirava como se ele fosse um inseto:
- Qual é a religião do senhor?
- Religião do Senhor... Jesus não seguia
religião nenhuma, moço.
- Cara, tô perguntando qual é a tua religião.
Responda-me o que te perguntei, disse o "fortão" metendo bronca.
O cara do “fim do mundo” não se dobrou, respondeu-lhe em desafio:
- Se eu tivesse alguma religião aposto que não
seria a mesma que a tua.
- Mas quem você pensa que é?
- Não penso... e fechou os olhos apontando-os
para o alto da testa. Ao abrir as pálpebras o brutamonte viu, por primeiro, os
branco dos olhos do cara do fim do mundo e, no instante seguinte, a bola dos
olhos batendo contra as dele:
- “Virgi Maria” exclamou arrepiada a mulher da
filhinha.
Lacônico, o homem do fim do mundo completou a frase:
Lacônico, o homem do fim do mundo completou a frase:
- Sou aquele que monta o cavalo de fogo.
O brutamonte fez dois sinais da cruz e se
sentou como um cachorrinho subserviente, e ninguém mais ousou dizer uma única
palavra.
Moral da
história:
1. Não olhe para o lado se o assunto da conversa
em volta não te diz respeito.
2. Numa roda de conversa mole, daquelas que se
usa para matar o tempo, não puxe ninguém para entrar. Deixe que os afins entrem
de livre e espontânea vontade.
Jairo Ramos Toffanetto
Nenhum comentário:
Postar um comentário