quinta-feira, 16 de maio de 2013

A fotografia e o "mover-se de si mesmo"


(por M.Regina B.Toffanetto, 2007)
Fotografar  é pôr-se em movimento, o resto decorre. É aventurar-se por outros planos do sentir. Um quê de extensão do olhar, de ver o que se está vendo. Seguem surpresas. Aparecimentos incidentais segundo antes e depois do clique (no visor) seguem desenrolando-se como num rolo de filme em edição, às vezes temático, e quando, vai se fechando, anunciando o término, às vezes aguardado cenas complementares que só você sabe aonde buscá-las, às vezes denso de história em registro único, às vezes fica por reelaboração estética (zoom e recorte). 

Enfim, basta entrar em estado do sentir em fusão de imagens do macrocosmo ao microcosmo ou vice-versa. Evocações do futuro do passado, do futuro do presente ou em alhures do aqui agora em eterno presente, Com a imagem digitalizada no visor da máquina, muitas vezes revela-se o que, sem obra do acaso, eu sei, não estava por mais atento e aberto estivesse o olhar. 

Em moto perpétuo, estado sem fim, imagens atravessam o olhar(sentir), ressoa e volta para ser grafado. Incidentes mais rápidos que o clique da máquina, muitas vezes perdido o registro. Entre o contemplar e a ação dá-se a sensação do clique vir da intersecção, da costura interior/exterior em mágico deslinde e labor instrumental, uma força maior a regê-lo. 

A bidimensão revela a imagem de modo diferente do que se vê, ou do que mentalmente se recortou (foco) para o disparo. Razões se sobrepõem a outras mediante um conjunto de ideias que se abrem, expandem-se, avultam-se ao olhar. Um aprendizado constante, um exercício. Após o registro, o cérebro continua decodificando-o, e quando a completude da composição já não basta, o transcendente. Abre-se o novo, nova ordem de razões. O duo bidimensional já não se basta, a ilusória profundidade está noutro lugar, no da integração de infinitas de possibilidades.

Sinto que se passa bem perto disto. Fotografar é mergulhar. A máquina fotográfica... um escafandro, um jeep dentro de um simba safari. Sem isenção, dentro e fora o tempo todo. A força poética que dali pode se desprender/depreender. Abstração que pára o tempo. É real o sentimento adjacente (ponto fora) ao pertencimento anterior e posterior ao momento presente a operar e o fotografar, por(-se) como instrumento a serviço da expressão do que se imprime neste fazer, é o que dá o tom, tons da licença poética do fotógrafo. Conquista da liberdade, da ação à caminho da Paz.

A fotografia, assim como o poema, são para o outro. A propósito, o poema é o irmão mais velho da fotografia, e ambos, primos da crônica, da pintura. Um haicai é uma fotografia mental, p.ex.. 

No mundo de hoje  fotografia brotoeja pra todos os lados e... que bom seja assim.

Jairo Ramos Toffanetto

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