(por M.Regina B.Toffanetto, 2007) |
Fotografar é pôr-se em movimento, o resto
decorre. É aventurar-se por outros planos do sentir. Um quê de extensão do
olhar, de ver o que se está vendo. Seguem surpresas. Aparecimentos incidentais
segundo antes e depois do clique (no visor) seguem desenrolando-se como num
rolo de filme em edição, às vezes temático, e quando, vai se fechando,
anunciando o término, às vezes aguardado cenas complementares que só você
sabe aonde buscá-las, às vezes
denso de história em registro único, às vezes fica por reelaboração estética
(zoom e recorte).
Enfim,
basta entrar em estado do sentir em fusão de imagens do macrocosmo ao
microcosmo ou vice-versa. Evocações do futuro do passado, do futuro do presente
ou em alhures do aqui agora em
eterno presente, Com a imagem digitalizada no visor da máquina, muitas
vezes revela-se o que, sem obra do acaso, eu sei, não estava por mais atento e
aberto estivesse o olhar.
Em moto
perpétuo, estado sem fim, imagens atravessam o olhar(sentir), ressoa e
volta para ser grafado. Incidentes mais rápidos que o clique da máquina,
muitas vezes perdido o registro. Entre o contemplar e a ação dá-se a sensação
do clique vir da intersecção, da costura interior/exterior em mágico deslinde e
labor instrumental, uma força maior a regê-lo.
A bidimensão revela a imagem de modo diferente do que se vê, ou do que mentalmente se recortou (foco) para o disparo. Razões se sobrepõem a outras mediante um conjunto de ideias que se abrem, expandem-se, avultam-se ao olhar. Um aprendizado constante, um exercício. Após o registro, o cérebro continua decodificando-o, e quando a completude da composição já não basta, o transcendente. Abre-se o novo, nova ordem de razões. O duo bidimensional já não se basta, a ilusória profundidade está noutro lugar, no da integração de infinitas de possibilidades.
Sinto que se passa bem perto
disto. Fotografar é mergulhar. A máquina fotográfica... um escafandro, um jeep
dentro de um simba safari. Sem isenção, dentro e fora o tempo todo. A força
poética que dali pode se desprender/depreender. Abstração que pára o
tempo. É real o sentimento adjacente (ponto fora) ao pertencimento anterior e
posterior ao momento presente a operar e o fotografar, por(-se) como
instrumento a serviço da expressão do que se imprime neste fazer, é o que dá o
tom, tons da licença poética do fotógrafo. Conquista da liberdade, da ação à
caminho da Paz.
A fotografia, assim como o poema,
são para o outro. A propósito, o poema é o irmão mais velho da fotografia, e ambos,
primos da crônica, da pintura. Um haicai é uma fotografia mental, p.ex..
No mundo de hoje fotografia brotoeja pra todos os lados e...
que bom seja assim.
Jairo
Ramos Toffanetto
Nenhum comentário:
Postar um comentário