sábado, 18 de maio de 2013

Vladimir Mayakovsky - "Garoto" e "Romança"


Garoto

Vladimir Maiakovski

Fui agraciado com o amor sem limites. Mas, quando garoto, a gente preocupada trabalhava e eu escapava para as margens do rio Rion e vagava sem fazer nada. Aborrecia-se minha mãe: "Garoto danado!" Meu pai me ameaçava com o cinturão. Mas eu, com três rublos falsos, jogava com os soldados sob os muros. Sem o peso da camisa, sem o peso das botas, de costas ou de barriga no chão, torrava-me ao sol de Kutaís até sentir pontadas no coração. O sol assombrava: "Daquele tamaninho e com um tal coração! Vai partir-lhe a espinha! Como, será que cabem nesse tico de gente o rio, o coração, eu e cem quilômetros de montanhas?"
 

Romança

Vladimir Maiakovski

Um menino avança, a vista fixa no ocaso

Era o caso de um amarelo insuperável.

Até a neve do posto Tver amarelava.

Ninguém por perto e o menino segue.

Num ato, da ação

arreda o passo.

Na mão

da seda -

o aço.

O por do sol olha por uma hora

a renda que atrás dele se enredara.

A neve crispante roia as rótulas.

Por quê?

Para quê?

Para quem?

Vento ladro - o garoto era checado.

O bilhete passa seu direito ao vento

que pára pra ligar do parque Pedro:

- Adeus...

Tudo acabado....

Que ninguém seja culpado...


Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky - Влади́мир Влади́мирович Маяко́вский (1893-1930). Poeta, dramaturgo e teórico russo, frequentemente citado como um dos maiores poetas do século XX. Tem exercido influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna, bem como sobre outros poetas e movimentos no mundo inteiro, como Hamid Olimjon, Bazim Hikmet, Hedwig Gorski e Caetano Veloso.

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