domingo, 17 de novembro de 2013

Estranha realidade. Clarão absurdo seguido ao desvanecer da noite escura














Estranha realidade. Clarão absurdo seguido ao desvanecer da noite escura

A mariposa tem uma barreira invisível, real, insuperável. Um vidro transparente. Se sobreviver à luz do sol contra seus olhos noturnos, certamente encontrará saída no meio que conhece, a noite escura, mas, exausta, estará exposta a morcegos vorazes que implacavelmente a perseguirão até à inevitável morte A duas perninhas da sombra, debate-se contra a barreira transparente tentando se livrar da explosão da luz contra.  Ah se ela pudesse fechar seus olhos e descansar ali mesmo. Prisioneira da sua limitação, suas asas não alçam voo livre se cego ao dia, riscando a sorte em ziguezigues do acaso. Debalde, debate-se contra ele. A incompreensível transparência a mata mais que o sol. Coisas da luz do dia, da claridade absurda, do insólito, do esmagador. Estranha realidade. Clarão absurdo. A escuridão lhe é esplendorosa? Sim, unicamente a lua. Para uma mariposa, unicamente a lua. Traída pela atrativa ilusão das luzes artificiais, agora cega cem olhos expostos ao Sol. Sua lua aumentou de tamanho? Não, ela precisa fugir da luz esmagadora. Ao fim do dia as portas se fecharão e, ainda presa, se debaterá novamente contra a barreira invisível que a impede de voltar mais uma vez para a ilusão das lâmpadas. Agora queima seus olhos, mas se escapar do seu derradeiro sepulcro, estará queimando suas asas no artifício da incandescência. Oh mundo cruel. O Sol dourado a mata. A luz argêntea da lua a salvará depois da eternidade do dia. Sua fascinação lunar a cegará antes da boca da noite. Diferente das borboletas, suas primas, não encantará ninguém. Seu voo errático ao dia é abjeto para todos. Até os pássaros a rejeita. Quando só restar arrastar-se, chamará atenção das formigas. Oh mundo cruel, estrangeiro, irreconhecível, pelo menos para as mariposas. (JRToffanetto)

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