sábado, 25 de abril de 2015

É preciso aprender com a mulher do guarda chuva




Esta senhora desce a avenida com um matinho na mão. Olha pro chão e depois para o barranco. O que vê, ou o que procura, uma muda de planta, um tempero de cozinha, talvez o coentro, um galho de loro pro feijão?  Ou será um pé de boldo, um capim santo (erva cidreira) ou um chá de quebra pedra. Os pensamento dela estão com os seus (família, vizinhos). Um deles precisa um chá disto e o outro daquilo. Ela cura a má digestão deste, tira a dor muscular daquele e regula os intestinos de alguém. À noite, antes de dormir, ela ferverá a erva doce para dormir melhor. Ao se levantar ela tirará o chá de capim santo da geladeira e com ele embeberá um chumaço de algodão para suavizar a olheira da filha antes que esta saia pra trabalhar.
  
Pois esta mulher possui um saber trazido dos silvícolas há muitos milênios antes do aparecimento do homem branco por estas plagas. A propósito, poderosas multinacionais estão clandestinamente recolhendo estes conhecimentos lá na “nossa” Amazônia e fabricando produtos fabulosos tanto na farmacêutica quanto em cosméticos, patenteando “suas” descobertas e as colocando no mercado a peso de ouro. Vale dizer que o Brasil está entre as três medicinas ayurvédicas do mundo, as outras estão na Índia e na China. Chamamo-la de fitoterapia. Para o interesse dos gringos que invadem nossas matas sem pedir licença, significa, um conhecimento que encurta anos de pesquisa em laboratórios.



Aposto como esta senhora da foto também é “benzedeira”  (vaydia na Índia). Aquela que depois de uma reza junto ao paciente recomenda o uso de tais e tais plantas, mas se, por exemplo, apenas recitar umas palavras contra “mau olhado” ou pra quem “pegou ar” funciona também, mas se a pessoa estiver em prostração por causa de um “mau olhado” daqueles, certamente ela recomendará um banho  de chá de arruda, e não há religião nisto, mas fé, religiosidade em vida, e alguns dos seus rituais, assim como na Índia, desafiam o senso comum e a prática científica.

Ao ver esta senhora descendo uma moderna e movimentada avenida da cidade, sinto-a como um tesouro e também um testemunho de que nossa cultura autóctone ainda vive e que não morrerá tão cedo assim apesar do descaso para com estes nos dias de hoje e que uma hora eu conto.

Nas pessoas, nos animais, nos barrancos e terrenos baldios da cidade existem coisas a desafiar nossa pretensa sabedoria e outras que nem sonha nossa imaginação. É preciso aprender com a mulher do guarda-chuva. 


JRToffanetto

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