Próximo ao final da tarde deste domingo, com peso nos ombros, chamei a Regina para darmos uma volta pelo bairro, sentia-me esmagar, medi a pressão. Ela estava no pé. Precisava de ajuda. Pedi-lhe para que levasse um caderno de anotações ditas no Absoluto por uma grande mente, Dr. Celso Charuri. De imprevisto o ela o abriu e leu "Sabedoria é conhecer-se. Conhecer-se é saber dos próprios limites e dos limites dos outros."
Precisamos percorrer o grande losango da praça para encontrarmos banco e nos sentar. Refletíamos sobre o texto. Ela conduzia a conversação quando identificamos um Sabiá-poca pousado no centro do um grande canteiro arborizado à nossa frente. Outros sabiás passaram por ele, até um João-de-barro percorria o gramado ao entorno, e ele não se mexia. Num dado momento Furnarius alçou voo passando rente ao Amaurochalinus que nem se demoveu. Chamei a atenção da Regina "Você está vendo isto? O que pode significar?" Ela me respondeu:
"O sabiazinho veio escutar nossa conversa".
Palavras possuem energia, e quando no absoluto transcendem o meio comum. Se elas eram boas para nós, também o eram aos pássaros. Furnarius cantou. Então nos demos conta que nenhum sabiá cantara. Diferente do canto do Sabiá-laranjeira, o do Amaurochalinus é essencialmente canto mateiro (pertencente às matas).
"Regina, você se lembra de quando mudamos para nossa casa? Havia um João-de-barro que da árvore do outro lado da rua sempre nos acordava junto à barra clara do dia?
Não vimos quando o Amaurochalinus pousara, nem quando ele alçou voo dali.
Levantamo-nos e partimos em caminhada pela Avenida Samuel. Já era noitinha quando chegamos em casa. Eu me sentia como em levitação.
_JRToffanetto
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