terça-feira, 12 de junho de 2012

"Vida de Morte" ou "Cara de Não me Toque"


Pieter Bruegel


Eram os primeiros momentos de céu claro da manhã de hoje quando percorri uns duzentos metros pelo caminho de ida e volta à Padaria Avenida. Tanta chuva nas últimas semanas...  A natureza cantava com os pássaros. Havia uma festa para os ouvidos, para os sentidos, e a promessa de um dia lindo, afinal, estamos no já crepuscular outono.


Pieter Bruegel

Enfim, cruzei com mais de dez pessoas indo para os pontos de ônibus. Vinham de cabeça baixa, olhando para o chão, fixas no próprio umbigo. Não creio que auscultavam os pássaros. Naquele lusco-fusco matinal, é certo que, pelo medo, identificaram-me de longe. Esconderam os olhos pelo medo de serem abordadas com um "bom dia" de mesmo entusiamo que os pássaros. Medo de que seus olhos gordos e sem a íris fossem descobertos. Olhos vitrificados, cegos, medonhos, de gente que dorme com a cabeça para baixo e os pés dependurados no alto. Se fossem soltos no meio de algumas de nossas tribos indígenas, certamente seriam comidos, afinal, pensariam eles, para que serve gente que dentro não tem nenhum canto de passarinho. 

Jairo Ramos Toffanetto

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