Banco bom é o de sentar.
Caixa é a do engraxate.
Dinheiro com mais valor que gente,
não presta, é pobreza.
"Seja bem-vindo à..." disse-me a porta que fala estrídulamente e nada diz, mas travou minha passagem, e mais, ordenou que eu deixasse objetos metálicos numa certa caixinha.
Ninguém se sente melhor com este tipo de recepção, e quando a porta giratória trava, o sentimento desperto é o da repulsão. Repetidas vezes impedidos de entrar, muitos ficam com os nervos em frangalhos e logo soltam seus cachorros internos ladrando palavrões.
Do lado de dentro, um guarda parecendo-se tão esperto quanto a porta, apontava-me a caixinha com ar mandatário.
Você se parece um banido com uma segunda chance. Muitos se sentem embaraçados. O guarda acredita só no que pode ver e acha que todo mundo é meio bobo.
A porta manda, o guarda manda, todo mundo manda. Mandam até no fundo do seu bolso. Puxam até sua última moeda e te dão um papel para você assinar em baixo. No fim, muitos ainda saem de lá dizendo um abnegado "muito obrigado".
Com uma máquina fotográfica presa na cinta por capa anti-choque, desafivelava o cinto para tirá-la. À minha frente um funcionário do banco, um rapaz com ares de mais esperto, deu-me um corretivo:
- O senhor não precisa tirar a cinta.
Pensou que eu achara ser a fivela da cinta a causa da porta travar (?) ou ficou com medo que minhas calças caíssem nos tornozelos e todos vissem uma constrangedora cueca samba-canção com bolinhas vermelhas? Neste caso, seria gozado entrar no banco de calças na mão e a deixar sobre a mesa do gerente. Perguntar-lhe-ia:
- O que mais voces querem de mim?
Não é à toa que se ouve dizer por aí
"se bobear com banco ele te toma até a cueca".
Mesmo não sendo partidário da atitude extrema da mulher que disparou uns tiros dentro do banco, pergunto-me se não queriam lhe tomar também calcinha. Se a moda pega, os bancos ficariam parecidos com o "saloon" dos antigos filmes de bang-bang.
Fiz-me de surdo. Assim como a porta, o coitado estava no automático e, portanto, sem a capacidade humana da observação, mas algo me dizia que ele não passava de um "filho da porta". Não dá para ficar complacente numa situação destas, mas eu vinha de um céu azul sobre um dia brilhante, lindo demais. Ignorei a porta sem cabeça, o guarda (volumes), a caixinha que é um saco, o funcionário que funciona no defeituoso como a porta, enfim, a "roubada" em que insistiam em me meter.
Naquela situação em branco e preto, tirei o cinto do primeiro passador e lentamente puxei o objeto. O rapaz observou o movimento das alças dos zípers da capa da máquina e, para manter a pose, deu uma de que estava por dentro do acontecido:
- Ah, só precisava abrir o zíper e tirar o negócio de dentro.
PÔ!!! o "filho da porta" veio de bandeja na mão, na medida exata para ouvir de mim:
- Ô fiô... acha mesmo que eu abriria o zíper pra você?
Ficou com cara de aparvalhado. Nem sei se ele entendeu. Socorri-o pregando-lhe um repreensivo sombrolho. As crianças tem medo das sobrancelhas por não as entender. Colapsado, ele falou qualquer coisa engasgada, incompreensível.
Enfim, coloquei a embalagem da máquina na caixinha mas não a soltei, pois ela teria uma queda de uns quatro ou cinco dedos. "Agora, chato vou ser eu", pensei.
- Solta, ordenou o guarda.
Olhei pra ele e pra caixinha para ver se ele decifrava o óbvio.
- Solta, ordenou ele mais uma vez.
- Tem ovos aí dentro, adverti-o.
Fuzilando sua raiva, ele meteu a mão na caixinha e como sua mão não passava pelo anteparo, esticou os dedos para amparar a queda do objeto.
Segundos depois entrei no banco e peguei o objeto da discórdia. E se fosse um artefato explosivo? Por isto é que digo, o guarda também é "filho da porta", burro como uma porta. Dizendo-lhe que dentro havia uma máquina fotofráfica, agradeci-o por ampará-la para mim, mas ele me ignorou. Se tivesse cérebro poderia dizer "É mesmo, então eu quero vê-la".
Dei-lhe um obrigado pela suas costas. Ele chacoalhou o corpo como um capoeirista. Pareceu-me que gingaria o corpo para me devolver o golpe. Achei que ele gostaria de tirar o cassetete para me dar uma borrachada para se redmir em conjunto com o rapaz que queria ver o meu negócio. O "obrigado" lhe doía nos ossos.
Mas este não foi o fim das minhas desventuras dentro daquela banco que se pareceu mais com reco-reco que uma caixinha.
Jairo Ramos Toffanetto