Meu amigo Carleto tem o gosto das horas vagas em cultivo de hortas no terreno contíguo à sua casa. Orgulha-se em mostrar tudo o que planta, mas a menina de seus olhos são o alface roxo, uma raridade em feiras e mercados da cidade, e os caramanchões de maracujá e de machuchu (xuxú). Veja o de xuxú em foto que tirei em 2010:
Caramanchão de xuxu na postagem http://poemas-de-sol.blogspot.com.br/2010/09/sucesso-profissional-versus-sacrificio.html |
Estes caramanchões são lugares ideais para se descansar na sombra e tomar água fresca quando na lida sob sol escaldante, ou para ficar sob ele e, no silêncio, esquecer as horas e de si mesmo. O dono da horta só convida alguém para ali se sentar quando seu olhar de matuto sente que o outro é amigo da pouca fala. Sob ele não se diz coisas, e se se conversa é porque a fala vem como a arrebentação dos brotos, sem que se perceba. Uma fala macia como a da polpa dos legumes, sem caroço, só sementes.
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Semana passada voltei àquele caramanchão de xuxú. Surpreendi-me por vê-lo em nova formação. O Carleto nada dizia, apenas olhava para cima. Um espetáculo. Uma gavinha sai da haste e, como um fio solto no ar, aguarda o momento ideal para se prender enrolando-se sobre si mesmo. Quando saímos de lá, o céu, limpo das nuvens iniciais, era nosso pertence, e também as ruas, as casas, as cores do nosso chão. Acho que foi o gole de caramanchão.
Jairo Ramos Toffanetto
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