A perplexidade de Bowie
Num filme (um Cult) David Bowie representou um alienígena que observava a raça humana. Numa de suas falas, se bem lembro, ele disse “o ser humano só é bom no pior”. Nunca acreditei nisto. Penso que se ele toma atitudes à favor da vida é porque estava preparado para isto. Algo dentro dele sempre esteve em construção ao longo da vida.
No incêndio de uma casa noturna em Santa Maria/RS, muitos que, do lado de fora, ao sentir a dimensão do risco de vida para muitos, morreram depois de ajudar salvar inúmeras vidas.
Aonde estavam estes heróis antes destes feitos extraordinários, antes de surgirem para agir como gigantes, e dando lição não apenas de solidariedade mas, sobretudo, ampliando o sentido de valor da vida? Dá uma enchente e ele está lá, um herói anônimo arriscando a vida para salvar aquele outro que nunca o olhou no cara. Pois ele arrisca sua vida entrando numa enxurrada de águas em velocidade de 400 km/h. Nesta hora ele se torna um gigante e salva até cachorrinho.
No ano passado um motoboy cruzava um viaduto sobre o Rio Pinheiros. Ao ver que de um carro jogaram um bebê no rio, ele imediatamente parou a moto, mergulhou lá de cima e salvou o bebê, sem ter medido conseqüências, como o rio infecto ou a altura e profundidade para mergulho.
Um destes estava num ônibus. Talvez olhasse pela janelinha sem nada pensar, apenas vendo o movimento das coisas. Na altura do Bairro do Limão ou Casa Verde-SP, tal ônibus caiu do viaduto sobre a linha do trem. Pois ele saiu do ônibus e começou a correr pela linha férrea até se encontrar com o trem. Tirou sua jaqueta e com ela acenou para o maquinista que imediatamente foi freando a composição. Quando esta se encontrou com o ônibus, apenas o tocou de leve, como se beijando, delicadamente.
Das gentes que estão andando por aí, só não conseguimos enxergar
o tamanho real que elas tem porque não temos desenvolvido o olhar do sentir.
Jairo Ramos Toffanetto
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