Pulei o carnaval - de sexta para “quarta-feira de cinzas”. Neste
tempo estive lendo, passeando, escrevendo, blogando, ouvindo meus cd(s),
pintando o muro do terraço de casa e assim por diante.
Décadas atrás o termo em uso não era pular,
mas brincar o carnaval, mesmo porque
quem pula é o gato, o cachorro, o cavalo, o veado, a zebra... Como nos diz contos populares, o vocábulo pular estaria correto se se referisse àquelas famosas festas da bicharada no céu.
Para “brincar” é preciso ser como a criança. Com desprendimento e
criatividade ela entra no mundo da fantasia aonde representa tudo o que a
aflige e dá forma de expressão para o que ela não tinha nenhuma. Vai aprendendo separar
coisas e se resolvendo para se tornar melhor.
Em suas origens, e o carnaval não é invenção brasileira, ele se
expressava similarmente, é só pesquisar pra saber mais detalhadamente. Infelizmente,
por causa da televisão, do samba enredo, das alegorias, o carnaval se tornou
temático, com torniquete de regras para um evento de mídia. Virou “coisa” de figurino, tudo
marcado como num desfile militar, e, por fim, pra estrangeiro ver. Acredita-se
que do contrário não se tornaria linguagem de mídia e nada colaria.
Os adultos desaprenderam “o brincar”, pois, em geral, vivem engessados o
tempo todo. Seja através do bestial “politicamente correto” tão em moda ou para
defender sua boquinha. Quanto mais
engessados mais pesados, mais difícil o desprendimento para a criatividade e
mais biritas tomam. Biritas para quebrar o gelo (desinibir-se) e não o gesso.
Mas houve um tempo em que se “brincava” o carnaval e não se dizia
“desfile de escolas de samba” mas simplesmente “desfile de rua” ou “carnaval de
rua”. Nestes antigos “desfiles” a dura realidade era desabafada através da
fantasia e com muito humor.
Uma das sensações do carnaval do Rio de Janeiro deste ano se deu com
figurantes escorregando num tobogã para cair numa piscina d’água. Linguagem de impacto
e nada mais. Se isto fosse feito por gente que sabe do “brincar”, tipos caracterizados
de diferentes meios sociais escorregariam por este tobogã representado em ladeira abaixo onde o
folião cairia numa piscina de água, sim!, mas cheia de dinheiro de plástico
boiando e transbordando para o chão, um catarse. Alguns sairiam com a cueca cheia de
dinheiro, outros com a indefectível mala preta. O leão dos impostos abocanharia boa parte,
assim como raposas e aves rapinantes de toda sorte, até a sogra.
Enfim, esqueci de dizer muita coisa, mas amanhã me lembro.
Jairo Ramos Toffanetto
Nenhum comentário:
Postar um comentário