O poeta é como pescador,
pesca se tem peixe
ou... paciência.
Poetas surdos à gritaria dos peixes usam anzóis, são terríveis. Mau poeta só puxa sapato velho cheio de lodo do fundo do lago - bom pra quem gosta de matéria orgânica decomposta. Poeta com aguardente em beira de rio é pinguço, cachaceiro. Poetas que jogam a rede são mercantes, mau cheirosos peixeiros mercenários. Poetas que fazem versos para pentear macaco são os poliglotas das novas tribos, nunca entraram no rio. Poeta bom pra cachorro vive na frente da televisão, depois vai dormir na rede à beira do lago sem nunca saber da lua. Poeta politicamente correto sofre de anemia, nunca comeu peixe e enjoa-se à beira do mar. Poeta que nunca entrou no rio escreve poemas dizendo que é poesia. Poesia não se escreve, sente-se. É como água em corpo sedento. Poeta que nunca caçou a lua pelas ruas da cidade é caçador de borboletas. Sequer pescará um lambari. Poeta não é quem escreve versos mas aquele que entra no rio. Poeta que nunca aprendeu nadar anda nas nuvens querendo pescar peixes voadores. Poeta escamoso é cheio de escamas. Mau poeta não chega à margem do rio. Poeta atravessa a nado lagos mefíticos e não ganha barriga d'água. Mau poeta vive boiando no ar, nunca nas águas que correm. Poeta que tem medo da profundidade das águas se engasga num copo d'água. Bom poeta é um boto feito gente. Mau poeta tem casca dura como a do jacaré. O poeta nasce nadando, o resto ele aprende. O poeta é amigo da morte, daí o fato de ele amar tanto a vida, ele sabe que a qualquer momento pode ser pescado. Mau poeta tem medo do que não conhece e nada arrisca, só risca versos de plástico, é peixe fora d'água. Mau poeta pode rimar versos, nunca com a Poesia e, em geral, morre como peixe, pela boca. Todo poeta é pescador de sol a sol, de lua a lua, de corpo e alma. É de veneta (língua; idéia) licenciada pela lua.
Quanto a mim, faço como os meninos de antigamente:
vou bater peneira no córgo.
O que pesco deixo em bacia com água,
mas se não der uma boa pratada, despejo-os de volta,
volto amanhã.
Isto dá certo porque sempre pesco pra todo mundo.
Jairo RamosToffanetto
2 comentários:
Muito bom... inspirador! Me lembrou aquela história de como um mago, um yogue um mestre zen atravessaram um rio. O mago sumiu e apareceu no outro lado do rio, sequinho. O yogue levitou e também chegou seco ao outro lado. O mestre zen (poeta) entrou na água e com esforço chegou na outra margem dizendo:"vocês não sabem nada sobre o que é o rio!"
Abração
O que dizer do teu comentário, a história que você me contou... Você chega com a linguagem do sentir e acrescenta um côvado imensurável. Façamos, pois, um brinde à Poesia.
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