Uma detetive e um executivo tecem uma negociação pelo avesso, num jogo de poder onde tudo pode virar mercadoria. (I Mostra Teatro Para Alguém, realizada em 16 de dezembro de 2012 na Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo.)
A sinistra música inicial está na intensidade da
interpretação da Gilda Nomacce diante do alheamento das emoções por Germano
Melo e sua rigidez desumanizadora, sem cores, unilateral, que nada se casa com
ele (psicologicamente) pelo lado de dentro. No fim,
e pelo lado de fora, depois de um cigarro e a convite de um simples drink, ela
dá de ombros a um simbólico pássaro com a cabeça enterrada, dizendo que a vida comum é pura encenação em palco de realidade dual,
em preto e branco e de valia duvidosa. Depois que se aprende jogar, pra que servem razões interiores ou existência real? A dura e
sórdida realidade sempre fica mais bem contada pelo viés da arte. O curta leva isto ao primor.
A intervenção à cena de Bianca Lopresti é especialísssima.
Será ela o espírito da arte dentro das pessoas? Louco ou apenas surdo às
queixas ao redor? Algo que não serve à realidade prática? Olhos vidrados e de
guaximim, andar em rodopio, mumificado em nosso interior, interdito à realidade
comum.
Enfim, como não conheço a peça teatral de origem, ah como
eu gostaria de ver a Bianca se desenrolando das amarras e revelando sua
existência real. Um catarse. Mas o espírito da arte precisa, aqui, de alguém
que fale por ele para que se mantenha íntegro, do contrário se tornaria um dramalhão
por que o “eu existo” é algo a ser conquistado, demanda processo. Enquanto
isto não ocorre, ele, no plano físico, fica sujeito às mãos de mercenários, medíocres marchand(s)
mais atentos às suas verdades pessoais destituídas de valor do que o cuidar, de
fato, de uma ordem de necessidades que não tão só as próprias. Para os personagens só resta o conflito, mas quem ousa desafiar(-se). Por séculos o conflito se mantém em cena sob a luz da dramaturgia.
Jairo Ramos Toffanetto
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